segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Ao Povo Português - Adriano Botelho




segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Trabalhadores da Madiçor em dificuldade




Cerca de 30 trabalhadores da empresa Madiçor estão, desde o início da manhã de hoje, 31 de Outubro de 2011, reunidos à porta da empresa, em Ponta Delgada, em protesto pelo que dizem ser um "abuso" por parte da empresa que tem salários em atraso há pelo menos cinco meses.

De acordo com a comunicção social estão na mesma situação cerca de 50 trabalhadores que como única solução à vista só vêem a insolvência da empresa.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Desemprego aumenta mais nos Açores



Os centros de emprego nos Açores registaram em Setembro mais 1809 desempregados do que no mês homólogo de 2010, indicam dados divulgados ontem pelo Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP). A Região regista assim o maior aumento de inscritos em centros de emprego a nível nacional, com um acréscimo de 31,8% face a 2010 e ainda a subida mais acentuada no mês de Setembro, com mais 300 desempregados face a Agosto (um aumento de 4,2%).

Fonte: AO, 21 de Outubro de 2011

domingo, 9 de outubro de 2011

Anarquismo e ecologia


ANARQUISMO E ECOLOGIA
Murray Bookchin

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O anarquismo não se limita apenas a ideia de criar comunas independentes. E, se me detive a examinar esta possibilidade, foi apenas para demonstrar que, longe de ser um ideal remoto, a sociedade anarquista tornou-se um pré-requisito para a prática dos princípios ecológicos. Sintetizando a mensagem crucial da ecologia, diremos que, ao reduzir a variedade no mundo natural, estaremos aviltando sua unidade e integridade, destruindo as forças que contribuem para a harmonia natural e para o equilíbrio duradouro e, o que é ainda mais importante, estaremos provocando um retrocesso no desenvolvimento do mundo natural. Retrocesso que poderá eventualmente, impedir o aparecimento de outras formas mais avançadas de vida.
Sintetizando a mensagem reformadora da ecologia, poderíamos afirmar que, se desejamos promover a unidade e estabilidade do mundo natural, tornando-o mais harmonioso, precisamos estimular e preservar a variedade. Mas estimular a variedade pela variedade seria um vazio. Na natureza, ela surge espontaneamente.

As possibilidades de sobrevivência de uma nova espécie são testadas pelos rigores do clima, pela sua habilidade em enfrentar seu inimigos, pela sua capacidade de estabelecer e ampliar o espaço que ocupa no meio ambiente. Entretanto, qualquer espécie que consegue aumentar seu território estará, ao mesmo tempo, ampliando a situação ecológica como um todo. Citando A. Gutkind, ela estará "ampliando o meio ambiente tanto para si própria quanto para qualquer outra espécie com a qual mantenha uma relação equilibrada".
Como aplicar este conceito a teoria social? Creio que para muitos leitores bastaria dizer que, na medida que o homem é parte da natureza, a ampliação do meio ambiente natural implicaria um maior desenvolvimento social. Mas a resposta para essa pergunta é bem mais profunda do que poderiam supor ecológicos e libertários. Permintam-me retornar mais um vez a idéia ecológica que afirma ser a diversidade uma consequência da integridade e do equilíbrio. Tendo em mente essa idéia, o primeiro passo para encontrar a resposta seria a leitura de um trecho da Filosofia do anarquismo de Herbert Read, onde, ao apresentar seus "critérios de progresso", ele observa que o progresso pode ser mediado pelo grau de diferenciação existente na sociedade. Se o indivíduo é apenas uma unidade da massa coletiva, sua vida será limitada, monótona e mecânica. Mas, se ele for uma unidade independente, poderá estar sujeito a acidentes ou azares da sorte, mas ao menos terá a chance de crescer e expressar-se. Poderá desenvolver-se - no único sentido real do termo - na consciência de sua própria força, vitalidade e alegria.

Embora não tenha encontrado seguidores, as idéias de Read nos fornecem um importante ponto de partida. O que primeiro nos chama a atenção é o fato de que, tanto ecologista como anarquista ressaltam a importância da espontaneidade.

Na medida em que é mais que um simples técnico, o ecologista tem um tendência a desprezar o conceito de "domínio sobre a natureza" preferindo falar em "conduzir" uma situação ecológica, em gerir um ecossistema, em vez de recría-lo. O anarquista, por sua vez, fala em espontaneidade social, em libertar o potencial da sociedade e da humanidade, em dar rédeas soltas a criatividade humana. Ambos vêem na autoridade uma força inibidora, um peso que limita o pontencial criativo de uma situação natural ou social.
Assim como o ecologista procura ampliar o alcance de um ecossistema e estimular a livre ação recíproca entre as espécie, o anarquista busca ampliar o alcance da experiência social e remover os obstáculos que possam impedir seu desenvolvimento. O anarquismo não é apenas uma sociedade sem governo, mas uma sociedade harmoniosa que procura expor o homem a todos os estímulos da vida urbana e rural, da atividade física e mental, da sensualidade não reprimida e da espiritualidade, da solidariedade ao grupo e do desenvolvimento individual. Na sociedade esquizóide em que vivemos, tais objetivos não só são considerados irreconciliáveis, como diametralmente opostos.

Uma sociedade anaquista deveria ser descentralizada, não apenas para que tivesse condições de criar bases duradouras que garantissem o estabelecimento de relações harmoniosas entre o homem e a natureza, mas para que fosse possível dar uma nova dimensão ao relacionamente harmônico entre os próprios homens. Há uma necessidade evidente de reduzir as dimensões das comunidades humanas - em parte para solucionar os problemas da poluição e em parte para que pudéssemos criar verdadeiras comunidades. Num certo sentido, seria necessário humanizar a humanidade. O uso de aparelhos eletrônicos, tais como telefones, telégrafos, rádios e televisão, como forma de intermedia a relação entre as pessoas, deveria ser reduzido ao mínimo necessário.

As comunidade menores teriam uma economia equilibrada e vigorosa, em parte para que pudessem utilizar devidamente as matérias-primas e as energias locais, e em parte para ampliar os estímulos agrícolas e industrias. O membro da comunidade que tiver inclinação para engenharia, deveria ser encorajado a mergulhar suas mãos na terra, o intelectual a usar seu músculos, o fazendeiro a conhecer o funcionamento da fábrica. Separa o engenheiro da terra, o pensador da espada, o fazendeiro da fábrica, gera um grau de superespecialização, onde os especialistas assumem um perigoso controle da sociedade.

Uma comunidade auto-suficiente, que dependesse do meio ambiente para sua subsistência, passaria a sentir um novo respeito pelas inter-relações orgânicas que garantem sua sobrevivência. Creio que longe de resultar em provincianismo, essa relativa auto-suficiencia criaria uma nova matriz para o desenvolvimento do indivíduo e da comuna - uma integração com a natureza que revitalizaria a comunidade.

Se algum dia tivermos conseguido ter na prática uma verdadeira comunidade ecológica, ela produzirá um sensível desenvolvimento na diversidade natural, formando um todo harmônico e equilibrado. E, estendendo-se pelas comunidades, regiões e continentes, veremos surgir diferentes territórios humanos e diferente ecossistemas, cada um deles desenvolvendo suas próprias potencialidades e expondo seus membros a uma grande variedade de estímulos econômicos, culturais e de conduta. As diferenças que existem entre indivíduos serão respeitadas como elementos que enriquecem a unidade da experiência e do fenômeno. Libertos de uma rotina monótona e repressiva, das inseguranças e opressões, da carga de um trabalho demasiado penoso e das falsas necessidades, dos obstáculos impostos pela autoridade e das compulsões irracionais, os indivíduos estarão, pela primeira vez na história, numa posição que lhes permitirá realizar seu potencial como membros da comunidade humana e do mundo natural.
Murray Bookchin
(em: O Anarquismo Pós-Escassez, 1974)

domingo, 11 de setembro de 2011

O GRANDE COMBATE


Foto tirada a partir de um postal editado pela Escola Secundária Antero Quental (pintura de Domingos Rebelo)

"Há, efectivamente, um grande combate travado; há dois exércitos e duas bandeiras inimigas: dum lado o Trabalho, do outro o Capital: dum lado aqueles que, trabalhando, produzem: do outro lado aqueles que, sem esforço, e só porque monopolisaram os instrumentos do trabalho, terras, fábricas, dinheiro, vivem da pesada contribuição que impõem a quem, para produzir e viver, precisa daqueles instrumentos, daquele capital.

O Capitalista diz ao Trabalhador: se queres produzir, se queres viver, se queres existir, aceita submisso as minhas condições, recebe a minha lei, sê o meu criado e o meu servo: eu apreciarei o teu trabalho, darei por ele o que entender e quiser, serei o teu director, o teu amo, o teu tirano, e só assim terás tu direito a existir! Se essas condições te parecerem duras, cruéis, inadmissíveis, deixo-te nesse caso a liberdade de morrer de fome, a liberdade da inanição!

É isto justo? É isto humano? Não, mil vezes não: e todavia é esta a cruel realidade! A concorrência e o salário põem o trabalho à mercê do capital: e este, sentindo-se forte, extrai do trabalhador tudo quanto ele produz, deixando-lhe apenas o suficiente para não morrer, isto é, para poder continuar a trabalhar!"

Fonte:http://www.ocomuneiro.com/paginas_01_antero_o_que_e_a_internacional_1871.htm

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

O Jovem Libertário João Anglin



O gosto pela leitura, nomeadamente de quase tudo ao que aos Açores diz respeito, fez com que, há alguns anos, tenha chegado às minhas mãos uma separata da revista “Insvlana” dedicada ao jornal de inspiração anarquista “Vida Nova”, de Ponta Delgada, que terei lido e não dado muita importância.

Em 2010, no âmbito do meu envolvimento na defesa dos animais, ao pesquisar sobre Alice Moderno, precursora dos actuais movimentos de defesa do ambiente e amiga dos animais, deparei-me com um texto de João Anglin, no jornal “A Folha”, que primeiro havia sido publicado no “Vida Nova”.

A leitura, quase simultânea, da História dos Açores, do Dr. Carlos Melo Bento, onde o Dr. João Anglin era apresentado como “professor liceal de grande mérito pedagógico, legionário nacionalista e um dos importantes esteios do regime” e do livro “A oposição ao Salazarismo em São Miguel e em Outras Ilhas Açorianas (1950-1974) ” onde num texto da Doutora Sacuntala de Miranda a dado passo se fica a saber que o Liceu Antero de Quental, em pleno regime salazarista conservava sob a gestão do Dr. João Anglin “significativos traços democráticos” e que aquele “estava longe de ser uma figura autoritária e era coadjuvado, nas suas funções, por professores de tradições democráticas, como o meu pai e o Dr. João Bernardo Rodrigues”, despertou-me a curiosidade em conhecer melhor a personalidade do Dr. João Anglin que foi durante muitos anos reitor do Liceu Antero de Quental, escola onde frequentei os antigos 6º e 7º anos do Ensino Liceal.

Através da investigação que fiz cheguei à conclusão que, na sua adolescência, ele foi um militante libertário, já que, como escreve João Freire, não se limitou a “uma adesão intelectual à doutrina”, mas teve uma actividade de relevo “no sentido de difundir e alargar o raio de influência social” do ideal anarquista como o demonstram os textos que publicou no “Vida Nova”.

A seguir, apresento um pouco do pensamento de João Anglin durante o período que vai de 8 de Junho de 1908 a 22 de Abril de 1911.

O 1º de Maio, data comemorada em Portugal desde 1890, foi tema usado por João Anglin em dois textos. Para além da denúncia da situação degradante em que viviam (e vivem) os mais explorados, nomeadamente os operários, há nos textos uma mensagem de denúncia do capitalismo e da transformação da data, por alguns, em dia de “festas e patuscadas” e uma palavra de esperança numa revolução que “se não fará esperar muito”. Só quando tal acontecer, escrevia João Anglin, aquele dia deixará “de ser um dia de protesto e de luta para ser um dia de festa e regozijo universais”.

O anti-militarismo foi, também, um assunto que não esteve ausente das preocupações e textos de João Anglin e do “Vida Nova” à semelhança do que acontecia noutros jornais nacionais que publicavam cartas/apelos aos soldados ou cartas destes a descrever a vida nos quartéis. João Anglin, para além considerar os quartéis como “focos de imoralidade e ociosidade” escrevia que com a incorporação no exército perdiam-se braços produtores (na agricultura) e quem beneficiava era “o Estado e toda essa corte de satélites que em torno dele adejam, porque assim é mais um autómato a servi-los, mais uma lança a defendê-los”.

A influência da Igreja Católica na sociedade micaelense foi um dos alvos da luta de João Anglin como se pode confirmar através da leitura de vários textos onde, mais do que combater os fundamentos da religião, aponta as suas baterias para os “ministros” que corrompem “as sublimes doutrinas do fundador do Cristianismo”.

Na maioria dos textos de João Anglin, a educação e a instrução são os temas principais. Segundo ele, a sociedade retrógrada em que vivia só poderia ser destruída por meio da instrução que segundo ele é:

“O único guia seguro que dirige os povos pela estrada que conduz à civilização; ela é também o meio eficaz para as massas proletárias se libertarem do jugo que lhes impõe a burguesia.
Só por meio de uma instrução baseada nos princípios da justiça e do amor, é que o povo compreenderá os seus direitos e gritará bem alto: Queremos liberdade.”

T. Braga

Fonte: http://www.correiodosacores.net/index.php?mode=noticia&id=34791


Fonte: http://obode.blogspot.com/search/label/libert%C3%A1rios

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Trabalhadores desprotegidos



Nos Açores, em Junho, existiam 7 111 desempregados, mais 24,7% do que em Junho do ano de 2010.

Nos últimos dias foram despedidos cerca de uma dezena de trabalhadores da obra do novo hospital de Angra do Heroísmo. Na mesma obra, os trabalhadores estão a receber um vencimento inferior ao salário mínimo nacional, que por sua vez é inferior ao salário mínimo regional.

Entretanto, na conserveira Corretora, mais de meia centena de funcionários voltaram a ser “dispensadas” por falta de atum.

A exploração e o desrespeito pela vida humana é tanta que três dias depois do acidente que vitimou um trabalhador espanhol e um natural de São Miguel, no dia 30 de Julho, a família deste último ainda não havia sido contactada pela empresa responsável pela construção da SCUT.
Vida Nova
2 de Agosto de 2011

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Emma Goldman, uma mulher muito perigosa

domingo, 26 de junho de 2011

História da CNT, FAI e do anarquismo europeu

sábado, 11 de junho de 2011

O Gato Negro no Anarquismo


O Gato Negro, também chamado "gato selvagem" ou "gato montês" ("wild cat" em inglês), se mostra normalmente com as costas arrepiadas e com as unhas e os dentes para fora. Está fortemente relacionado com o anarquismo, especialmente o anarcosindicalismo.
Foi desenhado por Ralph Chaplin, uma conhecida figura do sindicato estadunidense Industrial Workers of the Word (IWW). A palavra "wildcat" exprime a idéia de selvagem ou feroz em inglês, então, como sua postura sugere, o gato simboliza greves autônomas - não autorizadas pelas diretivas dos sindicatos - (wildcats strikes) e o sindicalismo radical.
A origem do símbolo do gato negro é pouco claro, mas de acordo com uma história este vem de uma greve que estava passando por seu pior momento. Vários de seus membros haviam sido golpeados e mandados ao hospital. Logo um gato doente e negro caminhou entre o acampamento dos grevistas. O gato foi alimentado pelos operários grevistas e no momento em que o gato recobrou sua saúde a greve deu uma virada positiva. Eventualmente os operários em greve conseguiram algumas de suas reivindicações e adotaram o gato como mascote.
O nome de Gato Negro tem sido usado por numerosos coletivos e cooperativas, incluindo à um muito conhecido lugar musical em Austin, Texas, Estados Unidos (que fechou depois de um incêndio em 6 de julho de 2002) e um agora extinto "coletivo de cozinha" na University District of Seattle, Washington.
Como símbolo, o gato negro tem sido historicamente associado com bruxaria, maus agouros e morte. Se remonta às históricas culturas dos Hebreus e Babilônios. O uso pela bruxaria persiste nos tempos modernos; os anarquistas compartilham o símbolo do gato negro com a bruxaria e a Wicca, mas geralmente nenhuma das anteriores o representa com suas costas curvadas em posição de luta.
agência de notícias anarquistas-ana
Cascavel enrodilhada
Desmente a paz prometida
Nos gorgeios da alvorada.
Lubell

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Touradas? Não, obrigado!


segunda-feira, 25 de abril de 2011

1º de Maio 2011



1º de Maio de 2011 – Manifestação Anti-Capitalista em Setúbal

Chamada à recuperação da tradição combativa e anti-autoritária do “dia do trabalhador”
{Chamada a uma mobilização geral}

Desde o grupo de pessoas que compõem o recém formado colectivo anarquista *Terra Livre* de Setúbal queremos convocar uma manifestação de indivíduos, grupos, colectivos, espaços ou sindicatos apartidários, anti-autoritários, anti-políticos ou autónomos para o Domingo 1º de Maio de 2011.
Desejamos fazer desta data um marco de mobilização não controlada por nenhuma força partidária, por nehuma central sindical , ou qualquer força de repressão e controlo do Estado.
Desejamos recuperar o seu carácter de mobilização geral de trabalhadores, desempregados, estudantes e de todos quantos anseiam por uma sociedade nova, livre de violência capitalista, jogos partidários e repressão estatal.

{1º de Maio de 1886}

Em Chicago, EUA, as mobilizações operárias são violentamente atacadas pela polícia, seguranças privados e mercenários nas mãos dos ricos. Ao fogo tirano responde o fogo dos revolucionários. Caem corpos no chão dos dois lados da barricada.
Uma dezena de anarquistas são presos, condenados e injustamente assassinados: não interessava a verdade, mas sim o exemplo e a instauração de um clima de terror e medo entre o povo.
O efeito foi contrário: desse dia em diante, por todo o mundo, milhões de pessoas se levantam em solidariedade com esses anarquistas presos, propondo-se a resgatar da prisão essas sementes de dignidade humana. E dos corpos desses anarquistas cravejados das balas do poder e da infâmia, brotaram as raízes do assalto colectivo às cúpulas, para tentar trazer a (des)ordem capitalista aos seus joelhos e finalmente decapitá-la.
Até aos dias de hoje houve algumas vitórias, muitas derrotas e demasiadas traições… mas não houve um momento de descanso. A violência do Estado e dos patrões mudou bastante, perdendo a sua “simplicidade” enquanto refinava as suas tácticas, adquirindo tecnologia de ponta e requintes repugnantes de crueldade e maquiavelismo. Pelo contrário, as condições laborais / sociais/ económicas têm andado para trás, estando hoje pouco ou nada melhor do que no inicio do século passado, apesar dos gigantescos avanços tecnológicos e ciêntificos.
O que podemos aprender desses tempos, recusando qualquer mistificação do passado, é que a solidariedade e a acção colectiva das bases surgem sempre como uma poderosa arma em tempos de guerra suja dos governantes contra os seus governados

{2011 – Estamos Inquietos }

Há várias posições assumidas, mas dê lá por onde der, um facto é hoje inegável, da Tunísia à China, da Grécia a Portugal: os dias da paz social e apatia inquebrável ficaram para trás. Muitos sabiam que mais tarde ou mais cedo aconteceria, outros foram apanhados de surpresa. Alguns já tinham feito as suas jogadas antecipando-se, mas muitos mais têm agido com a espontaneidade e criatividade que os tempos exigem.

O que nos causa hoje em dia uma grande inquietação não é simplesmente o facto de vivermos sob o controlo de um poderoso Estado que nos oferece blindados e policias para resolver a nossa fome.
Não é só o facto de termos de apertar tanto o cinto até que o tenhamos de pôr finalmente à volta do pescoço.
Nem tão pouco a “crise” desta economia que nos obriga a todos a ser seus fiadores e que no fundo existe desde que o capitalismo é a nossa forma de regime económico.
Não é só o facto dos direitos laborais serem sinónimos de uma escravatura com menos chicotes, ou da democracia ser a maior ditadura de que há memória.
O que nos inquieta é saber que é de todos nós que se alimenta este virús chamado capitalismo, e portanto que é também de nós que depende a sua destruição.
Estamos inquietos e é sem dúvida nenhuma o tempo de sair à rua. Sem líderes nem partidos, sem cúpulas nem dirigentes. Sabendo que assim que levantamos a voz e os braços surgem imediatamente alcateias de instituições, partidos e organizações a quererem controlar os nossos gritos. Sabemos também que independentemente da data, todos os dias são um bom dia para recuperarmos a dignidade que o estado e a ganância de alguns nos foram roubando a todos.
Portanto, movermo-nos colectivamente a partir da base e de forma autónoma no primeiro dia de Maio é fruto do desejo de nos movermos assim todos os dias! E assim deixarmos para trás a corja de abutres e oportunistas que tentarão anunciar-se como “salvadores da pátria”, tão interessados que estão em chupar o nosso sangue de uma forma mais “justa”, mais “democrática” ou mais “nacionalista”.


{Porquê Setúbal?…}


Setúbal mantém um espírito rebelde apesar das inúmeras investidas do progresso capitalista e da pobreza. É uma cidade com fortes raízes de lutas libertárias, que nunca deixou de ser território de conflitos sociais. A ideia era propôr Setúbal como local anual para as iniciativas libertárias do 1º de Maio reconhecendo na cidade o potencial para um protesto mais vísivel nas ruas e menos imiscuido na paleta de cores partidarias e institucionais que as grandes mobilizações trazem a Lisboa.
O objectivo seria termos o espaço para criar uma mobilização autónoma e de base e consideramos que em Lisboa esta tarefa é bem mais difícil, confusa e frustrante; acrescida de toda a perseguição promovida vezes sem conta pelo grupo de ordem da CGTP (cujos abusos não tencionamos tolerar) que coopera e participa das tácticas repressivas da Polícia (para mais tarde fazerem figuras tristes a indignar-se com a “violência policial” quando lhes toca a eles) e que nos atraí com demasiada frequência para um confronto que não é o nosso objectivo.
O nosso desejo não é, no entanto, criar espaço para que membros de base da cgtp sejam alvos dos nossos insultos já que antes de considerarmos um individuo como “sindicalista” ou “membro da cgtp” considera-lo-emos enquanto individuo. Os nossos insultos ficam guardados para os dirigentes e para as cúpulas.
Não foi nem nunca será difícil expressar as nossas ideias e a nossa combatividade se em vez de nos focarmos no que há de criticável nas organizações sindicais, nos focarmos nos nossos princípios, métodos e objectivos.

{E agora… mãos à obra companheiros!}

Queremos pôr esta proposta em discussão. Levem-na aos vossos grupos, colectivos, companheiros, camaradas ou amigos do café. Planeiem, conspirem, discutam e critiquem.
Pelo caminho vão haver um par de reuniões para acertar detalhes, e uma assembleia mais abrangente. Se quiseres participar nas preparações ou tiveres sugestões entra em contacto através do nosso e-mail. Todos poderemos aportar com um pouco para a realização deste projecto e seguramente conseguimos fazer o possível e o impossível. Sempre o conseguimos. Sem estruturas hierárquicas, sem autoridades mesquinhas e sem politiquices.

Sem nada disso, mas com toda a determinação, respeito, dignidade e combatividade.


Todos a Setúbal no 1º de Maio 2011, pelas 13:00 no Largo da Misericórdia.


Nota- Até ao momento não se conhece qualquer convocatória para a celebração do dia 1 de Maio nos Açores. Alguns "sindicalistas" dos Açores costumam "manifestar-se" em Lisboa.

domingo, 17 de abril de 2011

ANARQUISMO PARA PRINCIPIANTES


Se acreditarmos no senso comum, e no que dizem os dicionários, sobre as palavras anarquia e anarquismo, estas significarão desordem, caos, confusão. Mas se pesquisarmos um pouco mais, veremos do que se trata verdadeiramente é de conceitos usados por pensadores e activistas sociais de uma importante escola do pensamento politico a que estão associados nomes como Proudhon, Bakunin, Kropotkin, Elisée Reclus, Malatesta, Murray Boochkin, Michael Foucault, Gilles Deleuze, Noam Chomsky e, em Portugal, Antero de Quental, Eça de Queiroz, Aquilino Ribeiro, Ferreira de Castro, António Sérgio, Aurélio Quintanilha, Emídio Santana, etc.

Anarquismo para Principiantes ajuda a compreender o verdadeiro significado, as ideias e a história do anarquismo e da anarquia para além das mistificações e preconceitos que habitualmente os envolvem e que leva a um grande desconhecimento por parte das pessoas em geral.

Na verdade, anarquia não significa ausência de ordem, mas antes ausência de Estado e de representantes políticos que decidem sobre os nossos assuntos ( da população em geral), que nos controlam e nos manipulam em funções dos interesses que não são os nossos. Anarquismo preconiza, pois, uma ordem sem poder, na medida em que são as próprias pessoas que se auto-organizam segundo os princípios da cooperação, do apoio mútuo e da solidariedade, sem necessidade de um Estado. Os anarquistas defendem serviços públicos a favor da comunidade, mas não os serviços estatais centralizados por um governo.

E, hoje, quando as doutrinas liberais e marxistas se vêem desacreditadas face à evolução social, o que vemos a ressurgir um pouco por todo o mundo são os valores libertários, as ideias e as práticas cooperativas defendidas pelos anarquistas, que passam a marcar presença nos fóruns e nos debates sobre os mais variados assuntos desde a ecologia, as redes sociais, a democracia directa e participativa, a cultura popular, movimentos sociais, as vanguardas artísticas, etc, e que, apesar da sua pluralidade, têm em comum a luta pela emancipação social e o respeito pela dignidade e liberdade de cada indivíduo.

O livro Anarquismo para Principiantes ajuda-nos a fazer uma primeira abordagem às ideias e à história do anarquismo, sem dispensar outras leituras posteriores

Texto de Viriato Porto (facebook)

O livro pode ser descarregado aqui: http://www.4shared.com/document/VplQw4oa/Anarquismo_para_principiantes.html

domingo, 13 de março de 2011

Estamos com as várias gerações à Rasca



Perto de um milhar de pessoas, de acordo com os números da organização, percorreram hoje (12 de Março) as ruas de Ponta Delgada, integrando a Manifestação da Geração à Rasca que reuniu em todo o país cerca de 280 mil manifestantes.


"Basta!", "Cunha precisa-se!" e "Queremos trabalhar!" foram algumas das palavras de ordem proferidas pelos manifestantes "desempregados, quinhentoseuristas e outros mal remunerados" que se concentraram por volta das 15:00 junto às Portas da Cidade.

A manifestação pacífica e apartidária - que, no entanto, contou com a presença de vários membros dos partidos políticos representados na Assembleia Legislativa Regional - percorreu as ruas da cidade, animada pela música de Zeca Afonso, dos Homens da Luta e dos Deolinda, reunindo várias gerações rumo ao Palácio da Conceição, sede do Governo Regional, a quem os manifestantes queriam entregar um manifesto que expressava as precupações da "Geração à Rasca."

Não tendo sido recebidos por nenhum representante do Governo Regional, os manifestantes voltaram atenções para a emissão em directo do programa televisivo Atlântida, da RTP Açores, que decorria no centro comercial SolMar.

Os poucos elementos da PSP que se encontravam no local foram insuficientes para conter os manifestantes que voltaram a fazer ouvir o seu protesto, durante o directo da RTP Açores.

Sem incidentes, o espaço foi sendo evacuado e a manifestação dispersou pouco tempo depois.

Reportagem: Isidro Fagundes

Fonte:http://ww1.rtp.pt/acores/index.php?article=20082&visual=3&layout=10&tm=10

sábado, 12 de março de 2011

O Criminoso é o eleitor


O CRIMINOSO!
És tu o criminoso, ó Povo, já que és tu o Soberano. És, é verdade, o criminoso inconsciente e ingénuo. Votas e não vês que és vítima de ti mesmo. Contudo, não reparaste ainda por experiência própria que os deputados, que prometem defender-te, como todos os governos do mundo presente e passado, são mentirosos e impotentes?
Sabe-lo... e queixas-te disso! Sabe-lo e nomeia-los! Os governantes, quaisquer que sejam, trabalharam, trabalham e trabalharão pelos seus interesses, pelos das suas castas e das suas súcias.

Onde foi e como poderia ser de maneira diferente? Os governados são subalternos e explorados: conheces algum que o não seja?

Enquanto não tiveres compreendido que só a ti cabe produzir e viver à tua maneira, enquanto suportares – por medo – e fabricares – por crença na autoridade necessária – chefes e directores, fica também a sabê-lo, os teus delegados e os teus amos viverão do teu labor e da tua patetice. Queixas-te de tudo! Mas não és tu o autor das mil chagas que te devoram?

Queixas-te da polícia, do exército, da justiça, das casernas, das prisões, das administrações, das leis, dos ministros, do governo, dos financeiros, dos especuladores, dos funcionários, dos patrões, dos padres, dos proprietários, dos salários, dos desempregados, do parlamento, dos impostos, dos fiscais da alfândega, dos possuidores de rendimentos, da carestia dos víveres, das rendas dos prédios rústicos e urbanos, dos longos dias de trabalho na oficina e na fábrica, da magra ração, das privações sem conta e da massa infinita das iniquidades sociais.

Queixas-te, mas queres a manutenção do sistema em que vegetas. Revoltas-te, por vezes, mas para recomeçar sempre no mesmo. És tu que produzes tudo, que lavras e semeias, que forjas e teces, que amassas e transformas, que constróis e fabricas, que alimentas e fecundas!

Porque não consomes até à saciedade? Porque és tu o mal vestido, o mal alimentado, o mal abrigado? Sim, porque és o Zé Ninguém sem pão, sem sapatos, sem morada? Porque não és o senhor de ti mesmo? Porque te curvas, obedeces, serves? Porque és tu o inferior, o humilhado, o ofendido, o servidor, o escravo?

Elaboras tudo e nada possuis? Tudo é por ti e tu nada és.

Engano-me. És o eleitor, o maníaco do voto, o que aceita o que é; o que, pelo boletim de voto, sanciona todas as misérias; o que, ao votar, consagra todas as suas servidões.

És o criado voluntário, o doméstico amável, o lacaio, o serviçal, o cão que lambe o chicote, que rasteja diante do pulso teso do dono. És o chui, o carcereiro e o bufo. És o bom soldado, o guarda-portão modelo, o locatário benévolo. És o empregado fiel, o servidor dedicado, o camponês sóbrio, o operário resignado com a sua própria escravatura. És o carrasco de ti mesmo. De que te queixas?

És um perigo para nós, homens livres, para nós, anarquistas. És um perigo de igual modo que os tiranos, os senhores que crias para ti próprio, que nomeias, que apoias, que alimentas, que proteges com as tuas baionetas, que defendes com a tua força de bruto, que exaltas com a tua ignorância, que legalizas com os teus boletins de voto – e que nos impões com a tua imbecilidade.

És bem o Soberano que bajulam e levam à certa. Os discursos lisonjeiam-te.
Os cartazes prendem-te a atenção; gostas das parvoíces e que te façam a corte: satisfaz-te, enquanto aguardas que te fuzilem nas colónias, te massacrem nas fronteiras, à sombra ensanguentada da tua bandeira.

Se línguas interesseiras lambem à volta da tua real bosta, ó Soberano! Se candidatos sedentos de posições de chefia e atafulhados de banalidades escovam o espinhaço e a garupa da tua autocracia de papel; se te embriagas com as lisonjas e as promessas que te vertem os que sempre te traíram, te enganam e vender-te-ão amanhã: é porque te pareces com eles. É porque não vales mais que a horda dos teus famélicos aduladores. É porque, não tendo podido elevares-te à consciência da tua individualidade e da tua independência, és incapaz de te emancipar por ti mesmo. Não queres, portanto, não podes ser livre.

Vamos, vota bem! Tem confiança nos teus mandatários, acredita nos teus eleitos.
Mas deixa de te queixar. Os jugos que suportas, és tu mesmo que tos impões. Os crimes de que padeces, és tu que os cometes. És o senhor, és o criminoso e, ó ironia!, és o escravo, és a vítima.

Nós, saturados da opressão dos amos que nos dás, saturados de suportar a sua arrogância, saturados de suportar a tua passividade, vimos chamar-te à reflexão, à acção:
Vamos, tem um bom movimento: despe o hábito estreito da legislação, lava o teu corpo rudemente, a fim de que rebentem os parasitas e a bicharia que te devoram. Só então poderás viver plenamente.

O CRIMINOSO É O ELEITOR!


Albert Libertad, Proclamação do
jornal “L´anarchie”, Março de 1906

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

O voto? – Nem secreto, nem masculino, nem feminino.


O voto secreto? – A confissão pública da covardia, a confissão pública da incapacidade de ostentar a espinha dorsal em linha reta, a confissão publica do servilismo e da fidelidade aviltante de uns, do dominismo das mediocracias legalmente organizados.
Democracia? – Ferrero a definiu: “este animal cujo ventre é imenso e a cabeça insignificante”…
O voto não é a necessidade natural da espécie humana: é uma das armas do vampirismo social. Se tivéssemos os olhos abertos, chegaríamos a compreender que o rebanho humano vive a balar a sua inconsciência, aplaudindo à minoria parasitária que inventou-a e representa a “tournée” da teatralidade dos governos, da política, da fosca armada, da burocracia de afiliados – para complicar a vida cegando aos incautos, a fim de explorar a todo o gênero humano em proveito de interesses mascarados nos ídolos do patriotismo, das bandeiras, da defesa sagrada dos nacionalismo e das fronteiras, da honra e da dignidade dos povos …
Depois, a rotina, a tradição, a escola, o patriotismo cultivado, carinhosamente, para que carneirada louve, em uníssono, o cutelo bem afiado dos senhores. A religião, a família se encarrega do que falta para desfibrar o individuo.
O voto, a legislação interesseira e mesquinha dos pais da Pátria, Parlamentos, Senados, Consulados, Ditaduras, Impérios, Reinos, republicas, Exércitos, Embaixadores, Mussolini – “escultores de montanhas”, símbolos da cegueira do rebanho humano, ídolos que substituem e se equivalem, brinquedos perversos de crianças grandes, sonhos transformados em “verdades mortas”, infância, atavismo de paranóicos…
A política é um trapézio.
Direito do povo, sufrágio universal… Palavras. Dentro do demagogo há uma alma de tirano. Caída a máscara que atraiu o rebanho humano, o ditador salta no picadeiro da política, as duas mãos ocupadas: em uma, o “manganelo”; na outra, o óleo de rícino…
Tem razão Aristóteles: “O meio de chegar à tirania é ganhar confiança da multidão: o tirano começa sempre por ser demagogo. Assim fizeram Pisistrate em Athenas, Téagéne em Mégara, Denys em Syracusa.”
Assim fez Mussolini.
Quando Ruy Barbosa, por exemplo, falava tão alto contra os nobres pais da pátria, é porque tinha na alma o despeito louco de não ter sido elevado ao pico máximo da vontade de poder.
Em política, age-se de modo inverso: os tribunos demagogos adulam o povo, elogiam a soberania do povo, proclamam dos direitos do povo, prometem a felicidade do povo e sobem empurrados pela embriaguez nacionalista e pelo servilismo e docilidade do povo, mas mais representado pela “populaça de cima”…
Quem quiser subir aos picos da vontade de poder, não procura as vozes desassombradas e nem toma decisões sem ouvir a direção de seu partido. Obedecer é a escola de quem quer mandar.
O político é um acrobata e, para alguém ser acrobata tem que principiar cedo a deslocar todas as juntas…
O político quando sobe às culminâncias da glória e do poder, já se dobrou tanto, já se curvou já se humilhou, já fez de tal modo o corpo de arco e a alma em camaleão que é capaz identificarem-se com o molusco.
Como deve ser difícil engolir a liberdade de opinião, a liberdade de consciência, a liberdade da imprensa, a coragem de proclamar altas as convicções – se fazemos parte de um partido definido, com declaração de princípios e afirmações categóricas e ação metodicamente organizada para derrubar partidos contrários ou dogmas religiosos que vêm ferir os nossos dogmas e pôr diques à nossa desenvoltura apostólica!…
Quando a imprensa é só louvor aos “eleitos” de cada partido político; se ninguém quer senão o que interessa aos seus planos e aos projetos e decisões do seu partido; se todos se preocupam com o cidadão e desprezam o homem livre, se se trata de ser sempre contra alguém, para subir, para vencer, custe o que custar; se obedecemos à lei em prejuízo da consciência; se fechamos os olhos para ver e nos servimos da lógica como instrumento para abafar as vozes sinceras; se semeamos o ódio e as ambições, nas farsas patrióticas do nacionalismo de partidos a se digladiarem pelo osso da vontade de poder, pelo osso do domínio pela gloria política – abrimos alas a uma ditadura mussolinesca como todas as arlequinadas do “manganello”, batuta da orquestração paranoica do atavismo elevado à altura de gênio, e que há de representar, condignamente a dignidade de Cônsul, como aquele cavalo célebre…
Também nós insensivelmente, pouco a pouco, preparamos o ambiente para que surja, neste país, um capataz, rebenque em punho, para Gaudio dos acrobatas moluscos das democracias de demagogos.
Somos uma nação de leis.
E Sócrates já dizia: “é a lei que corrompe os homens. Quem quer que aconselhe: ‘Obedeça à lei’ – é corruptor aos olhos do filósofo. Mas, quem quer que aconselhe: ‘Obedeça à tua consciência’ – é corruptor aos olhos do povo e dos magistrados”. (Han Ryner- “Les véritables estretiens de Socrate”.)
E, a propósito da liberdade da imprensa, lembremo-nos ainda de Sócrates: “Parece-me bem insignificante a coragem que acha temíveis certas verdades.”
Que será preciso para ser político ou servir a amigos políticos? – Ouvir, observar, acatar, obedecer, curvar-se ante os poredros da política, louvar ao povo, cantar a soberania do povo, prometer liberdades e… Fazer ginástica.
Cada um de nós tem o direito a si mesmo. Ninguém pode exigir da consciência de outrem.
Os homens se esqueceram da própria realização interior – para cuidar de todas as necessidades perfeitamente desnecessárias, criada pela avidez do progresso material, do gozo, do luxo, da ociosidade, criadas pelo cupidez do capitalismo absorvente e pela perversidade inominável do industrialismo de tudo, inclusive das consciências, organização social de caftense de vampiros do sentimento humano, mantida pela policia, pelo capital, pelas religiões dominantes, que separa os humanos em vez de unir, e pela força armada – escola que chacina para formar almas de canibais condecorados.
Cada um de nós tem o seu governo interior: tudo que vem de fora, não constituindo uma nota de beleza, de harmonia vibrando em uníssono com a nossa harmonia – é a violência, é ódio que gera o ódio. Mandar, como obedecer, é covardia: degrada, avilta, imbeciliza o gênero humano.
Maria Lacerda de Moura
Amai e… Não vos multipliqueis
Ano 1932
Editora: Civilização Brasileira
Paginas 56 a 60
Digitalizado por Dança das Ideias.
http://ateneudiegogimenez.wordpress.com/2010/12/06/a-politica-nao-me-interessa/