quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

2011 - Um Ano de Luta

sábado, 27 de novembro de 2010

O PDA e a Greve Geral


(imagem extraída da capa do jornal Correio dos Açores)

O partido “mais à direita” dos Açores, o PDA, contestou a greve geral convocada pelas centrais sindicais CGTP e UGT, alegando que “é no mínimo um autêntico disparate defender e lutar por melhorias salariais e outras, quando a receita diminuiu substancialmente”.

O seu presidente, Manuel Costa, salientou, no passado dia 22 de Novembro, "não haver riqueza material no país que suporte o gigantesco estado social que criámos e temos", sustentando que "o importante é trabalhar mais e, depois, esperar que aumente a riqueza para que esta seja dividida, na justa medida daquilo que cada um produz.

O partido que alberga o que resta do movimento separatista FLA e do partido do fascismo ANP continua a defender a lengalenga do costume quando se sabe que ao longo da história, ao aumento de riqueza está sempre associado o aumento das desigualdades sociais pois os do costume ficam sempre com o bolo quase todo e distribuem apenas algumas migalhas.

Pena é que para os sindicatos a Greve parece ter sido o objectivo da luta e não o início de um combate pela distribuição equitativa dos recursos e lucros e pela construção de uma sociedade livre baseada na cooperação e na autogestão, sem patrões nem tiranetes.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Em Greve Geral

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Eu fui a Lisboa abraçar-te

A ordem perturba mais do que a desordem.
Quem quiser ver, a democracia está aí: converteu a política, toda a política, no confronto com a polícia.
A política é hoje tudo aquilo que escapa ao sistema político-partidário. E contra o que escapa ao sistema político-partidário, a mentira da democracia chama a polícia.

Desta vez, não foram apenas os sitiados pelo controlo social e político – exercido pelo Estado em nome da falsa democracia – que sentiram na pele a repressão exercida pelo aparato da polícia-exército: alguns jornalistas, curiosos, transeuntes, imigrantes, ficaram espantados. Um carioca, ao entrar no Rossio às 18h da tarde ficou mudo e gelado: pensou que tinha regressado ao Morro Formiga na favela da Tijuca.
Mas a falsa democracia é por demais previsível: o ataque preventivo começou cedo. Ataque preventivo na rua, em Lisboa, ataque preventivo nos/dos Media com a série policial black block, ataque preventivo nas fronteiras. Assim desvia a falsidade da sua essência, assim limpa a ferocidade do seu Estado-Guerra: cercar o mal, isolar o desordeiro, o violento, o vândalo, os palhaços, os filhos-da-puta.
Mas se o Estado é cada vez mais guerra e cada vez mais previsível, o que dizer do PCP?

O meu avô e o meu pai foram/são comunistas. O meu avô foi preso, torturado, na prisão tentou suicidar-se para não ceder à tortura, para não ceder à violência: quis ceder a vida para não ceder a liberdade. Teve 7 dias em coma, tantos quanto os dias que ficou sob tortura do sono – a mesma tortura, entre tantas outras, que a NATO infligiu e inflige aos prisioneiros de guerra do Afeganistão e Iraque com o beneplácito do Estado português. Ao fim de 7 dias de tortura do sono, num rebate de lucidez, atirou-se a pique e de cabeça do vão das escadas do 4ª andar da prisão de Coimbra.
O meu pai, deu metade da vida pelo “partido”. Acumulou cólera e raiva, cortes nos direitos sociais e degradação da democracia. (A única coisa que ganhou foi, isso sim, o movimento de base e habitacional cooperativo que ajudou a fundar com sucesso). Acumulou mais cólera e raiva do que aquela que eu tenho.

O PCP é uma linha de comando de controlo da raiva e da cólera?
Nenhuma outra estrutura/movimento político e social no país é um “black block” em potência além do PCP.
Se a voz de comando disse-se: ocupem as fábricas, ponham cadeados nos portões, não deixem sair os camiões, o país parava. O PCP não tem de o fazer, só a ele lhe cabe essa responsabilidade, ou melhor, ao seu comité. Mas para achar a nossa responsabilidade em tudo o que fazemos, temos sempre que confrontar aquilo que realmente fazemos com as possibilidades do que poderíamos fazer e não fazemos. Nessa diferença, podemos achar a nossa irresponsabilidade.
Pergunto – não à voz de comando, aquele que declara à Lusa (Fonte: TVI) que as pessoas que foram impedidas de entrar no protesto «não pediram antecipadamente para fazer parte do corpo principal da manifestação»; ou ainda, citando a reportagem assinada no JN por Catarina Cruz, Carlos Varela e Gina Pereira, “o único caso de maior preocupação deu-se, a meio da tarde, quando um grupo não organizado foi cercado pelo Corpo de Intervenção da PSP, junto ao Marquês de Pombal. A intervenção policial deu-se a pedido dos organizadores da manifestação que perceberam que mais de 100 pessoas iam integrar o protesto. A polícia, fortemente armada, cercou o grupo na cauda do cortejo” –, pergunto a tantos comunistas e simpatizantes do PCP (e já agora aos outros movimentos partidários que a integravam) se têm o direito de impedir que um outro grupo de cidadãos exerça o mesmo direito que eles próprios gozaram no mesmo sítio, à mesma hora?
O que o PCP fez (ou a organização submetida à lógica centralista e autoritária do PCP) foi ilegal, ilegítimo e, sobretudo, um ultraje. E para fazer cumprir uma ilegalidade, chamou a polícia. E ditou-lhes: façam desta forma, cerquem esse grupo de cidadãos, ou seja, exerceu com eficácia o seu poder sobre as autoridades condicionando-as a agir fora da lei. Conseguiu o apartheid. Foi a peça que faltava no puzzle montado pelo circo do poder para legitimar mediaticamente a NATO, a sua cimeira, a sua máquina de guerra.
Foram três as entidades que montaram o circo mediático de legitimação da Cimeira da Nato: as altas-esferas políticas; a Polícia e os seus vários serviços; e os Media de Informação de Massa.
E o circo mediático tinha uma pedra-chave em todo processo de desvio da essência assassina da NATO e limpeza do sangue do seu cadastro criminal: os black block.
15 dias antes, começou-se a armar a tenda: telejornais transformados em séries policiais.
Os black block seriam a pedra-chave para montar o cerco, para apontar o adversário, para legitimar a repressão. Bastaria um carro a arder ou uma montra partida e, passe de mágica, o espectador lá de casa pensaria: de facto, os gajos da NATO até têm razão, estes tipos anti-Nato são uns arruaceiros. E todos os manifestantes passariam a ser arruaceiros e os senhores da Guerra uma espécie de caritas global d’ ajuda ao outro!
Mas desta vez, a tripla entente (Estado-Guerra, polícia e Media) não precisou de polícia infiltrada a partir as montras, para isolar o adversário, para desviar a atenção dos 35 mil mortos civis afegãos, os torturados, o horror, o ódio, o terror espalhado pela NATO. Tinham a voz de comando do PCP: a farsa dos B.B (barbies big-brother), a psicose colectiva instigada na TV por Estado-Guerra, Polícia e Media, passava a ter a sua realidade na manifestação contra a cimeira da Nato.
Nessa lógica, o PCP integrou a lógica do Estado: primeiro, limitou a sua actividade de protesto à legitimidade imposta pelo Estado da falsa democracia, como sempre tem feito (uma greve geral em 22 anos é uma espécie de suicídio assistido pelo capitalismo…), depois impedem um grupo de pessoas de juntar-se a uma só voz contra a Guerra, contra a NATO.

Cerquem esse grupo, cacem-nos, porque a democracia está em perigo!

E cercados que estávamos, passámos a ser o adversário, o arruaceiro, o vândalo, o criminoso que vem na TV. Nem uma pedra atirámos. O que o PCP e a polícia-exército fizeram foi fazer-me sentir, num par de horas, um palestino.
Num par de horas, a violência do cerco policial, converteu-nos em palestinos e palestinas (sem querer dramatizar, é apenas uma imagem, pois sei bem a diferença que vai entro um cerco num par de horas e um cerco total durante 3 gerações…). Nem sequer uma pedra atirámos. (Nem sequer aquelas garrafas d’água que se esborracharam no Vital Moreira… talvez tivessem sido anarcas com credencial!!!!!!!!!).
Entre pacifistas, libertários, membros da PAGAN, anarquistas e outros tantos seres como eu sem serem “istas” de nada, ali estiveram demonstrando a sua não-violência num momento inusitado de demonstração da violência do Estado e de clara violação de dois direitos fundamentais, o direito à manifestação em qualquer espaço público sem prévia autorização e o direito à livre circulação no espaço público do território nacional (não nos esqueçamos que ao longo do percurso foi-nos sucessivamente negado o acesso livre ao território que a voz de comando determinou que não podíamos pisar). À nossa volta, acabava a falsa democracia… mas quando a (falsa) democracia chega tão longe…

Sitiados, com polícias que nos ladeavam enfileirados a um metro ou dois de distância uns dos outros, já não tínhamos mais nada senão o corpo. Caçados os direitos, era a sobrevivência do corpo. A liberdade de ser corpo. Nada mais. Não atirámos uma pedra.

Por isso, no fim, quando te abracei, sei que abracei outro corpo, tão vivo quanto o meu, só violência de lágrimas. Mais nada.

Temos de voltar a fazer amor com a liberdade ou a democracia deixará de existir.
Pelo estado de ruína da cidadania, pela crescente militarização da polícia, pelo estado de ódio e controlo social, os nossos filhos (aqueles que continuem a afirmar a liberdade com a vida) caminharão já não escoltados de cada lado por um polícia, mas por tanques de guerra. Então, seremos cada vez mais palestinos e palestinas, cada vez mais cercados, e o nosso corpo, para viver, vai ter de explodir.

Júlio do Carmo Gomes

Mais duas breves notas:
Ainda os finlandeses impedidos de entrar na fronteira portuguesa. Num dia da vida deles, cada um desses homens, disse: o meu corpo não será uma arma. Nenhum Estado me obrigará a pegar numa arma. O meu corpo não tirará a vida a outro corpo. Objectores de consciência, pacifistas entranhados, vinham juntar-se aos activistas que em Lisboa condenaram outro tipo de homens: aqueles que, num dia da vida deles, não tendo coragem para matar com o seu próprio corpo, mandaram outro corpo puxar o gatilho. O que espanta não é a arbitrariedade da polícia, o abuso da autoridade, a sua insuficiência. Mas a normalização da violação de um direito fundamental. Já alguém apresentou uma queixa contra o Estado português no Tribunal Europeu dos Direitos do Homem?

Na acção de desobediência civil não-violenta levada a cabo na manhã de sábado o ambiente de protesto e mesmo a actuação policial acabou por correr sem ânimos exaltados, com relevo para a calma dos activistas e para a descoordenação da polícia (por exemplo, não conseguiram evitar um acidente de duas viaturas, sem qualquer gravidade, não tinham carrinhas suficientes para os detidos, e, numa cidade sitiada por polícias, só passado 25 minutos passaram a ser em número igual aos dos activistas…). Em todo o tempo em que estive lá a observar, como testemunha e prestando o meu apoio aos activistas, só vi uma pessoa exaltada: Paulo Moura, jornalista do Público. Indignado comigo pelo facto de eu não ter conseguido, pelo desenrolar das circunstâncias, cumprir com o que com ele tinha combinado: ler o comunicado dos activistas uma única vez diante de todos os jornalistas presentes. Não foi possível. Não estava lá como profissional de conferências de imprensa… Exaltado, para espanto também das outras duas pessoas que assistiam aos seus amuos devido à sua árdua tarefa de jornalista violentado nos seus direitos humanos pelo conferencista de serviço, o espanto atingiu o clímax com o comentário do ofendido: “Vocês são iguais aos gajos lá de baixo da Cimeira”. Mesmo ficando na dúvida se apenas se referia aos adidos de imprensa dos senhores da guerra, respondi-lhe: “Nenhum de nós tem as mãos manchadas de sangue”. O profissional acalmou-se, respirou fundo, recompôs-se da figura: “Só tenho uma pergunta: quantos foram detidos?”. Ora, para isso, tem a polícia.

Fonte: http://pt.indymedia.org/conteudo/newswire/2923

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

ANARQUISMO SOCIAL OU ANARQUISMO DE ESTILO DE VIDA

EXCERTOS

Murray Bookchin

AUTONOMIA INDIVIDUAL E LIBERDADE SOCIAL

Por cerca de dois séculos, o anarquismo – um corpo extremamente ecumênico de idéias antiautoritárias – desenvolveu-se na tensão entre duas tendências basicamente contraditórias: um comprometimento pessoal com a autonomia individual e um comprometimento coletivo com a liberdade social. Essas tendências nunca se harmonizaram na história do pensamento libertário. De fato, para muitos do século passado, elas simplesmente coexistiam dentro do anarquismo como uma crença minimalista de oposição ao Estado, ao invés de uma crença maximalista que articulasse o tipo de nova sociedade que tinha de ser criada em seu lugar.(...)

ANARCO-INDIVIDUALISMO

Com a emergência do anarco-sindicalismo e do anarco-comunismo nos fins do século XIX e início do século XX, a necessidade de se resolver a tensão entre as tendências individualista e coletivista tornou-se essencialmente obsoleta. O anarco-individualismo foi, em grande medida, marginalizado pelos movimentos operários socialistas de massa, dos quais muitos anarquistas consideravam-se a esquerda. Em uma época de violentos levantes sociais, marcada pelo surgimento de um movimento de massas da classe trabalhadora que teve seu auge nos anos 1930 e na Revolução Espanhola, os anarco-sindicalistas e anarco-comunistas, não menos que os marxistas, consideravam o anarco-individualismo um exotismo pequeno-burguês. Eles não raro o atacavam, de maneira bastante direta, acusando-o de ser um capricho de classe-média, muito mais radicado no liberalismo do que no anarquismo.(...)
Raramente os anarco-individualistas exerceram influência sobre a nascente classe operária. Eles expressavam sua oposição de forma pessoal e peculiar, especialmente em panfletos inflamados, comportamentos abusivos, e estilos de vida extravagantes nos guetos culturais do fin de siècle de Nova York, Paris e Londres. Como uma crença, o anarquismo individualista permaneceu, em grande medida, um estilo de vida boêmio, mais evidente em suas reivindicações de liberdade sexual (“amor livre”) e no fascínio pelas inovações na arte, no comportamento e nas vestimentas.(...)
Nos tradicionalmente individualistas e liberais Estados Unidos e Inglaterra, os anos 1990 estão transbordando de auto-intitulados anarquistas que – descontando a retórica radical exibicionista – vêm cultivando um anarco-individualismo moderno que chamarei de anarquismo de estilo de vida. Suas preocupações com o ego, sua unicidade e seus conceitos polimorfos de resistência vêm constantemente desgastando o caráter socialista da tradição libertária.(...)

ANARQUISMO DE ESTILO DE VIDA

Num sentido bastante concreto, eles [os anarquistas de estilo de vida] não são mais socialistas – defensores de uma sociedade libertária comunalmente orientada – e abstêm-se de qualquer comprometimento com um confronto social organizado e programaticamente coerente contra a ordem existente.(...)
Aventurismo ad hoc, ostentação pessoal, uma aversão à teoria estranhamente similar às tendências anti-racionais do pós-modernismo, celebrações de incoerência teórica (pluralismo), um compromisso basicamente apolítico e antiorganizacional com a imaginação, o desejo, o êxtase e um encantamento da vida cotidiana intensamente voltado para si mesmo refletem o preço que a reação social cobrou do anarquismo euro-americano nas últimas duas décadas.(...)
O ego – mais precisamente sua encarnação em vários estilos de vida – tornou-se uma idéia fixa para muitos anarquistas pós-1960, que estão perdendo contato com a necessidade de uma oposição organizada, coletiva e programática à ordem social existente. “Protestos” sem firmeza, traquinagens sem objetivo, a afirmação dos próprios desejos, e uma “recolonização” muito pessoal da vida cotidiana, são um paralelo aos estilos de vida psicoterápicos, new age, auto-orientados de baby boomers entediados e membros da Geração X.(...)
O anarquismo de estilo de vida, assim como o individualista, aporta um desdém para com a teoria, de ascendências místicas e primitivistas geralmente muito vagas, intuitivas, e mesmo anti-racionais, analisadas friamente.(...)
Sua linha ideológica é basicamente liberal, fundamentada no mito do indivíduo completamente autônomo cujas reivindicações da própria soberania se valem de axiomáticos “direitos naturais”, “valores intrínsecos”, ou, em um nível mais sofisticado, do eu transcendental kantiano produtor de toda a realidade cognoscível. Essas tradicionais visões vêm à tona no “eu” ou no único (ego) de Max Stirner, que tem em comum com o existencialismo a tendência a absorver toda a realidade em si mesmo, como se o universo girasse em torno das escolhas do indivíduo auto-orientado.(...)
Ao negar as instituições e a democracia, o anarquismo de estilo de vida isola-se da realidade social para que assim possa esfumar-se com uma fútil raiva ainda maior, continuando, por meio disso, a ser uma travessura subcultural para ingênuos jovens e entediados consumidores de roupas pretas e pôsteres excitantes.(...)
O poder, que sempre existirá, pertencerá ou ao coletivo, em uma democracia cara-a-cara e claramente institucionalizada, ou aos egos de poucos oligarcas que produzirão uma “tirania das organizações sem estrutura”.(...)
O isolamento do anarquismo de estilo de vida e seus fundamentos individualistas devem ser considerados responsáveis por restringir o desenvolvimento do ingresso de um potencial movimento libertário de esquerda numa esfera pública cada vez mais reduzida.(...)
A bandeira negra, que os revolucionários defensores do anarquismo social levantaram nas lutas insurrecionais na Ucrânia e Espanha, torna-se agora um “sarongue” da moda, para deleite de chiques pequeno-burgueses.(...)

UM TIPO DE ANARQUISMO DE ESTILO DE VIDA: A TAZ DE HAKIN BEY

A T.A.Z. é tão passageira, tão evanescente, tão inefável em contraste com o Estado e a burguesia formidavelmente estáveis que “assim que a T.A.Z. é nomeada (...) ela deve desaparecer, ela vai desaparecer (...) e brotará novamente em outro lugar”. A T.A.Z., de fato, não é uma revolta, mas sim uma simulação, uma insurreição igualmente vivida na imaginação de um cérebro juvenil, uma retirada segura para a irrealidade. Entretanto, Bey declama: “Nós a recomendamos [a T.A.Z.], pois ela pode fornecer a qualidade do enlevamento, sem necessariamente [!] levar à violência e ao martírio”. Mais precisamente, como um happening de Andy Warhol, a T.A.Z. é um evento passageiro, um orgasmo momentâneo, uma expressão fugaz da “força de vontade” que é, de fato, uma evidente impotência em sua capacidade de deixar qualquer marca na personalidade, subjetividade ou mesmo na auto-formação do indivíduo, e menos ainda em modificar eventos ou a realidade. (...)
A burguesia não tinha nada a temer com essas declamações de estilo de vida. Com a sua aversão pelas instituições, organizações de massa, sua orientação amplamente subcultural, sua decadência moral, sua celebração da transitoriedade e sua rejeição de programas, esse tipo de anarquismo narcisista é socialmente inócuo e, com freqüência, meramente uma válvula segura para o descontentamento com a ordem social dominante. Com Bey, o anarquismo de estilo de vida foge de toda militância social significativa e do firme compromisso com os projetos duradouros e criativos, quando se dissolve nas queixas, no niilismo pós-modernista e na confusão. O senso nietzschiano de superioridade elitista.
O preço que o anarquismo pagará se permitir que este absurdo substitua os ideais libertários de um período anterior será enorme. O anarquismo egocêntrico de Bey, com seu afastamento pós-modernista em direção à “autonomia” individual, às “experiências-limite” foucaultianas, e ao êxtase neo-situacionista, ameaça tornar a palavra anarquismo política e socialmente inocente – uma simples moda para o gozo dos pequenos burgueses de todas as idades.

ANARQUISMO SOCIAL

[Até hoje] os anarquistas não criaram nem um programa coerente, nem uma organização revolucionária para proporcionar uma direção ao descontentamento da massa que a sociedade contemporânea está criando.(...)
O anarquismo social, a meu ver, é feito de uma essência fundamentalmente diferente, herdeira da tradição iluminista, com a devida consideração aos seus limites e imperfeições. Dependendo de como se define a razão, o anarquismo social celebra a mente humana pensante sem, de forma alguma, negar a paixão, o êxtase, a imaginação, o divertimento e a arte. Contudo, ao invés de materializá-las em categorias nebulosas, ele tenta incorporá-las na vida cotidiana. O anarquismo social está comprometido com a racionalidade, embora se oponha à racionalização da experiência; com a tecnologia, embora se oponha à “mega-máquina”; com a institucionalização social, embora se oponha ao sistema de classes e à hierarquia; com uma política genuína, baseada na coordenação confederal de municipalidades ou comunas, pelo povo, com democracia direta cara-a-cara, embora se oponha ao parlamentarismo e ao Estado.
Essa “comuna das comunas”, para utilizar um slogan tradicional das revoluções anteriores, pode ser indicada, de maneira apropriada, como sendo o comunalismo. No entanto, os oponentes da democracia como “sistema”, ao contrário, descrevem a dimensão democrática do anarquismo como uma administração majoritária da esfera pública. Conseqüentemente, o comunalismo busca a liberdade, ao invés da autonomia, nesse senso que eu a contrapus. Ele rompe categoricamente com o ego boêmio, liberal, psico-pessoal stirneriano, por este ser um soberano encerrado em si mesmo, afirmando que a individualidade não emerge ab novo, enfeitada no nascimento com “direitos naturais”, e vê a individualidade, em grande medida, como o trabalho em constante mudança do desenvolvimento social e histórico, um processo de autoformação que não pode ser petrificado pelo biologismo e nem preso por dogmas limitados temporariamente.(...)
A democracia não é antitética ao anarquismo; o critério de decisão pela maioria e as decisões não consensuais também não são incompatíveis com uma sociedade libertária.(...)
O aspecto mais criativo do anarquismo tradicional é o seu comprometimento com quatro princípios básicos: uma confederação de municipalidades descentralizadas, uma firme oposição ao estatismo, uma crença na democracia direta e um projeto de uma sociedade comunista libertária.(...)
Em resumo, o anarquismo social deve afirmar, resolutamente, suas diferenças com o anarquismo de estilo de vida. Se um movimento social anarquista não pode traduzir seus quatro princípios – confederalismo municipal, oposição ao estatismo, democracia direta e, finalmente, o comunismo libertário – em uma viva prática, em uma nova esfera pública; se esses princípios se enfraquecem como suas memórias de lutas passadas em declarações e encontros cerimoniais; pior ainda, se eles são subvertidos pela Indústria do Êxtase “libertária” e pelos teísmos asiáticos quietistas, então seu centro socialista revolucionário terá de ser restabelecido sob um novo nome.
Certamente, já não é mais possível, do meu ponto de vista, chamar alguém de anarquista sem adicionar um adjetivo qualificativo que o distinga dos anarquistas de estilo de vida. Minimamente, o anarquismo social está radicalmente em desacordo com o anarquismo que é focado no estilo de vida, a invocação neo-situacionista ao êxtase e a soberania do ego pequeno burguês que cada vez contrai-se mais. Os dois divergem completamente em seus princípios de definição – socialismo ou individualismo. Entre um corpo revolucionário comprometido de idéias e prática, por um lado, e o anseio vagabundo para o êxtase e a auto-realização privados de outro, nada pode haver em comum. A mera oposição do Estado pode bem unir o lúmpem fascista com o lúmpem stirneriano, um fenômeno que não está sem seus precedentes históricos.

PERSPECTIVAS PREOCUPANTES

A menos que eu esteja gravemente errado – e espero estar – os objetivos sociais e revolucionários do anarquismo estão sofrendo um desgaste de longo alcance ao ponto em que a palavra anarquia se tornará parte do elegante vocabulário burguês do século XXI – desobediente, rebelde, despreocupado, mas deliciosamente inofensivo.
________________________________________
* Tradução e seleção: Felipe Corrêa
* Trecho de Anarquismo Social ou Anarquismo de Estilo de Vida: um abismo intransponível.
Fonte: http://www.anarkismo.net/article/11722

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

A crise no Oásis Açoriano

Na Estalagem Senhora da Rosa, salários em atraso

Mais de uma dezena de trabalhadores da Estalagem da Senhora da Rosa, em Ponta Delgada, têm os salários em atraso há vários meses e não receberam subsídios de férias.

Além disso, alguns trabalhadores encontram-se em regime de lay-off.

De acordo com alguns trabalhadores não se comprende a situação pois a empresa continua com muitos clientes.

A que é devida a apatia dos trabalhadores que nem para defenderem os seus direitos reagem?

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Partido Socialista Socorre Capitalistas


Nota prévia

O governo de Carlos César usa dinheiros públicos para socorrer capitalistas que se dizem em dificuldade e acciona o Banco Alimentar contra a Fome para fazer as suas boas acções diárias. O empresário Sandro Paim que não cumpre com as suas obrigações é o mesmo que tem disponibilidade financeira para apoiar touradas. Leiam a notícia abaixo.

Dez trabalhadores da ASTA recorrem a ajudas do Governo

Dez funcionários da ASTA Atlântida recorreram aos serviços do Instituto de Acção Social (IAS), após a suspensão do lay-off da empresa proprietária do Hotel Spa nas Furnas e do Hotel Casino, em Ponta Delgada. Segundo os dados da Secretaria Regional do Trabalho e Solidariedade Social, apenas 10 dos 42 funcionários recorreram aos apoios sociais, porque não tinham outro meio de subsistência, tendo recebido uma ajuda pontual de emergência, entre os 50 e 150 euros, até terem acesso ao subsídio de desemprego.

O Governo Regional, consoante as necessidades efectivas dos trabalhadores, apresentou ainda um complemento de apoio através do Banco Alimentar Contra a Fome. A atribuição deste subsídio transitório de cooperação familiar destina-se à aquisição de, principalmente, bens alimentares e medicamentos até os funcionários receberem o subsídio de desemprego.

O IAS garante que disponibilizou os meios técnicos e humanos de apoio aos trabalhadores da ASTA, empresa que, recorde-se, já declarou por duas vezes o lay-off. Esta redução temporária do período normal de trabalho deveu-se às dificuldades sentidas pela empresa no pagamento dos salários aos seus trabalhadores. Em Julho passado, Sandro Paim, da administração, assumiu ao Açoriano Oriental que, perante a situação de crise e enquanto não ficar concluído o processo de reestruturação da empresa, a ASTA iria avançar para a suspensão temporária dos contratos de trabalho, ficando as remunerações dos funcionários a cargo da Segurança Social.

Entretanto, o presidente do Governo também veio a público dizer que o Executivo não tem nos seus planos penalizar a ASTA Atlântida por ter rescindindo com 42 trabalhadores. Na Assembleia Legislativa Regional, Carlos César assumiu que o governo deve ajudar a empresa e não puni-la na concretização dos seus investimentos em relação ao Hotel Spa das Furnas e Hotel Casino. “Nós temos acompanhado este processo, não no sentido de punir e de romper com os seus diversos protagonistas, mas no sentido de os ajudar a ultrapassar uma fase da qual resultem benefícios para os trabalhadores e a concretização do investimento, que também julgamos de interesse público, razão pela qual apoiamos”, realçou. César valorizou o facto das pessoas, com a suspensão dos contratos de trabalho, passarem a receber os vencimentos por inteiro, através da Segurança Social.

Fonte: PAULO FAUSTINO/Luís P.Silva, Açoriano Oriental, 4 de Agosto de 2010

sábado, 31 de julho de 2010

Caçadores e Protectores dos Animais



A Batalha nº 194, Julho-Agosto de 2002

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Os anarquistas e as touradas



A Batalha, nº 194, Julho-Agost0 de 2002

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Sindicatos e Touradas





Fonte: A Batalha nº 194, Julho- Agosto de 2002

domingo, 11 de julho de 2010

O Jornal Vida Nova (1908-1912) e a Protecção dos Animais




O Jornal Vida Nova, “órgão do operariado micaelense”, publicou-se, em Ponta Delgada, entre 1908 e 1912, tendo como director e proprietário Francisco Soares Silva e como administrador António da Costa Mello.

A protecção dos animais, preocupação a que algumas correntes anarquistas são sensíveis, foi uma das temáticas que foi tratada nas páginas do Vida Nova, através do seu colaborador João H. Anglin.

Dada a actualidade do teor de um texto, do autor mencionado, publicado no número 48 do mencionado jornal, datado de 15 de Agosto de 1910, abaixo transcrevemos um longo excerto:

“Uma das mais manifestas provas da ignorância do nosso povo é a feroz brutalidade que usa com os pobres animais que na maioria dos casos lhe são um valioso auxílio na luta quotidiana pela vida.

Esses repugnantes espectáculos que diariamente se repetem nas ruas desta cidade nada atestam a favor da nossa boa terra, antes a desconceituam aos olhos dos estrangeiros que nos visitam os quais nos terão na conta de brutos a julgar por estas cenas bárbaras de que são vitimas os pobres animais indefesos.

Com isto não queremos dizer que o povo seja mau, porque de há muito está provado que não há homens maus. O que há apenas é a crassa ignorância, por cuja perpétua conservação tanto se empenham os políticos e governantes”.

Ainda no mesmo texto, João H. Anglin fala na necessidade do aparecimento de Sociedades Protectoras de Animais para acabar com todas as atrocidades e refere-se ao facto de alguém já ter tentado criar uma e ao que lhe parece já estarem redigidos os respectivos estatutos.

No número 51 do Vida Nova, de 15 de Outubro de 1910, surge a informação da realização, em breve, sessões para a elaboração e discussão de estatutos para uma Sociedade Protectora de Animais e apresenta António José de Vasconcellos, como a pessoa que iria ser convidada para presidir à instituição.

Naquela altura, 1910, a preocupação principal era para com os animais usados como auxiliares dos homens no seu trabalho, como poderemos deduzir através da leitura de outro excerto do texto do autor referido acima: “…era bom que alguma coisa se fizesse no sentido de melhorar a sorte desses pobres seres que tantos serviços prestam ao homem e que em recompensa recebem forte pancadaria quando porventura se encontram impossibilitados de trabalhar tanto quanto os seus donos exigem”.

Teófilo Braga

São Miguel, 9 de Julho de 2010

Fonte: Terra Livre

domingo, 27 de junho de 2010

Antero de Quental e o Ideal da Revolução Social

«Não é lisonjeando o mau gosto e as péssimas idéias das maiorias, indo atrás delas, tomando por guia a ignorância e a vulgaridade, que se hão de produzir as idéias, as ciências, as crenças, os sentimentos de que a humanidade contemporânea precisa»

Antero de Quental




IDEAL

Aquela, que eu adoro, não é feita
De lírios e nem de rosas purpurinas,
Não tem as formas lânguidas, divinas,
Da antiga Vênus de cintura estrita...

Não é a Circe, cuja mão suspeita
Compõe filtros mortais entre ruínas,
Nem a Amazona, que se agarra às crinas
Dum corcel e combate satisfeita...

A mim mesmo pergunto, e não atino
Com o nome que dê a essa visão,
Que ora amostra ora esconde o meu destino...

É como uma miragem, que entrevejo,
Ideal, que nasceu na solidão,
Nuvem, sonho impalpável do desejo...



O PALÁCIO DA AVENTURA

Sonho que sou um cavaleiro andante.
Por desertos, por sóis, por noite escura.
Paladino do amor, busco anelante
O palácio encantado da Ventura!

Mas já desmaio, exausto e vacilante,
Quebrada a espada já, rota a armadura...
E eis que súbito o avisto fulgurante
Na sua pompa e aérea formosura!

Com grandes golpes bato à porta e brado:
Eu sou o vagabundo, o Deserdado...
Abri-vos, portas d’ouro, ante meus ais!

Abrem-se as portas d’ouro, com fragor...
Mas dentro encontro só, cheio de dor,
Silêncio e escuridão – e nada mais!



Nocturno

Espírito que passas, quando o vento
Adormece no mar e surge a Lua,
Filho esquivo da noite que flutua,
Tu só entendes bem o meu tormento...

Como um canto longínquo - triste e lento -
Que voga e subtilmente se insinua,
Sobre o meu coração, que tumultua,
Tu vertes pouco a pouco o esquecimento...

A ti confio o sonho em que me leva
Um instinto de luz, rompendo a treva,
Buscando, entre visões, o eterno Bem.

E tu entendes o meu mal sem nome,
A febre de Ideal, que me consome,
Tu só, Génio da Noite, e mais ninguém!




Antero Tarquínio de Quental (Ponta Delgada, 18 de abril de 1842 — 11 de setembro de 1891) foi um escritor e poeta de Portugal que teve um papel importante no movimento da Geração de 70.

Nascido na Ilha de São Miguel, Açores, durante a sua vida, Antero de Quental dedicou-se à poesia, à filosofia e à política. Iniciou seus estudos na cidade natal, mudando para Coimbra aos 16 anos, ali estudando Direito e manifestando as primeiras ideias socialistas. Fundou em Coimbra a Sociedade do Raio, que pretendia renovar o país pela literatura, e que se distinguiu pela sua oposição às obsoletas praxes académicas, bem assim pela sua posição anti-cristã, de ultraje em relação a Deus, manifestada nas noites em que ocorrem trovoadas e pela posição sarcástica, resoluta e irreverente de Antero que, numa saudação pública ao príncipe Humberto de Itália, manifesta uma posição claramente anti-monárquica.

Em 1861, publicou seus primeiros sonetos. Quatro anos depois, publicou as Odes Modernas, influenciadas pelo socialismo experimental de Proudhon, enaltecendo a revolução. Nesse mesmo ano iniciou a Questão Coimbrã, em que Antero e outros poetas foram atacados por Antônio Feliciano de Castilho, por instigarem a revolução intelectual. Como resposta, Antero publicou os opúsculos Bom Senso e Bom Gosto, carta ao Exmo. Sr. Antônio Feliciano de Castilho, e A Dignidade das Letras e as Literaturas Oficiais.

Ainda em 1866 foi viver em Lisboa, onde experimentou a vida de operário, trabalhando como tipógrafo, profissão que exerceu também em Paris, entre janeiro e fevereiro de 1867.

Em 1868 regressou a Lisboa, onde formou o Cenáculo, de que fizeram parte, entre outros, Eça de Queirós, Abílio de Guerra Junqueiro e Ramalho Ortigão.

Foi um dos fundadores do Partido Socialista Português. Em 1869, fundou o jornal A República, com Oliveira Martins, e em 1872, juntamente com José Fontana, passou a editar a revista O Pensamento Social.

À república una e indivisível do Contrato Social (de Rousseau) opõe Antero a «república democrática federatica» ( de Proudhon). Os traços da sua consciência anarquista estão patentes no texto em que escreve:

«o mal não está tanto em ser este ou aquele quem nos governe, como no facto de sermos governados»

Ou ainda, quando declara,

«Que importa que o poder saia do seio da nação, se é sempre poder? E a tirania, porque somos nós que a criamos, deixa de pesar menos por isso, de ferir, de rebaixar a nossa dignidade de homens livres? Não é pois na substituição da ditadura de Sila à de Mário, da de Napoleão à de Robespierre, da de Espartero à de Isabel II, que está o segredo das revoluções, mas na extinção total da ditadura, fosse ela a de um santo, da tirania, fosse ela a de um deus. Ora tirania e ditadura é a unidade política, a centralização dos poderes(…)»

Leitor de Proudhon e de outros autores avançados para a época, ele constata em 1865 que o «ateísmo social-anarquia individual - é a fórmula precisa e clara das escolas mais avançadas da França e da Alemanha»

No texto «Democracia», publicado anonimamente no «Almanak para a Democracia Portuguesa» (1870), a democracia é definida como «a igualdade social e económica, tendo por instrumento a liberdade política», o que pressupões «a partilha social, entre todos os membros da sociedade, dos bens materiais, como garantia duma igual distribuição dos bens morais entre todos». A via para a Democracia é revolucionária. E Antero conclui exprimindo um desejo: «Que esta revolução se possa fazer pacificamente é o voto mais íntimo dos nossos corações».


Proclamando num outro texto o seguinte:

«Cuido pois que podemos contar ainda com 5 ou 6 anos de paz-podre, e o que nos cumpre a nós, homens da Ideia, é aproveitarmos este período, para lançarmos as bases do verdadeiro partido republicano-socialista, zurzindo entretanto sem piedade as seitas e tolas e visionárias os declamadores chatos e a corrupção geral. A crítica eis, por ora, qual deve ser a nossa ocupação. Fazer praça, limpar o terreno para a nova seara: a colher, por ora, só vejo joio e ervilhaca.»

Jaime Batalha Reis definiu Antero «como um proudhoniano puro».

Desde 1871, Antero, com José Fontana, Oliveira Martins e Batalha Reis, envolve-se na criação da secção portuguesa da Internacional. Mas confessaria, mais tarde, em carta datada de 1873, que ajudara anteriormente a fundar em Lisboa uma «pequena igreja de trabalhadores ad majorem Revolutionis gloriam»

No nº 1 da revista O Pensamento Social ele diz que a democracia « politicamente é individualista, e põe os direitos individuais como a pedra angular do edifício político. Por isso é federalista e considera o Estado como a associação livremente debatida e livremente formulada das individualidades, em que só reside o direito. Nega a autoridade, como uma força estranha e superior aos indivíduos, e substitui à Lei, que se decreta, o Contrato que s e pactua.»


Em 1880 no jornal O Operário, do Porto, evoca a personalidade de António Pedro Lopes de Mendonça, o precursor socialista, o homem da geração de J.F Henriques Nogueira, Francisco Maria Sousa Brandão e Vieira da Silva, os românticos associativistas do Eco dos Operários, e do Centro Promotor doMelhoramento das Classes Laboriosas.

Na declaração em que aceita ser proposto como candidato do Partido Socialista, ele afirma:

«Burgueses radicais, se a vossa república do capital, assim como a monarquia dos conservadores não é mais do que a monarquia do capital, que temos, nós, Proletariado, que ver com essa estéril questão de forma? É uma questão de família entre os membros da Burguesia, nada mais»

Do seu último escrito socialista, publicado no jornal operário do Porto – O Trabalhador, revista do movimento operário, em Janeiro de 1889 – reafirmava a sua divisa de sempre «a emancipação dos trabalhadores deve ser obra dos próprios trabalhadores», que era o lema da Internacional. Nesse texto, ele defendia que o problema económico e o problema moral condicionam-se mutuamente, e as forças do espírito são as forças sociais por excelência., daí que cite o seu Proudhon quando este escreve: «o mundo só pela moral será libertado e salvo»

Antero foi o autor do opúsculo O que é A Internacional, que saiu nos finais de 1871 onde se destaca a frase de claro recorte anarquista:

«Mas nós, trabalhadores, que assistimos, espectadores enojados, à comédia tristíssima dos governos da burguesia, que sabemos a soma de baixeza, de intriga, de vilania e de corrupção que representam um parlamento, um ministério e um jornal subsidiado, deixemos que passe por nós, na sua dança macabra, toda essa corte dos milagres , que nem ao menos como a outra, tem a franqueza do cinismo, e não nos indignemos com as vaias dos histriões oficiais ou oficiosos, que, em verdade, não o merecem.

A nossa preocupação é outra, e superior à cólera, à indignação, ao desprezo até, deve ser a nossa atitude. Obreiros materiais do presente, obreiros espirituais do futuro, absorvamo-nos no nosso duplo trabalho, convencidos de que, enquanto o nosso pensamento emancipador se não tiver realizado, enquanto a reforma social não for um facto, toda a acção política não representará para nós mais do que dissipação de tempo, dispersão de forças e - o que é pior - auxílio dado aos nossos inimigos, vida emprestada por nós ao organismo fatal que nos suga a nossa substância!

O programa político das classes trabalhadoras, segundo o Socialismo, cifra-se em uma só palavra: abstenção . Deixemos que esse mundo velho se desorganize, apodreça, se esfacele, por si, pelo efeito do vírus interior que o mina. No dia da decomposição final, nós cá estaremos então, com a nossa energia e virtude conservadas puras e vivas longe dos focos de infecção desta sociedade condenada.

A todos os partidos, a todos os governos, e todos os salvadores faremos uma só pergunta: e a reforma social ? Se nos responderem com negativas ou com evasivas, tê-los-emos por inimigos - pouco importa que se chamem monarquia, constitucionalismo, ou república.

Para o povo não há senão uma República: a República Democrática Social. Essa é a dos trabalhadores, é a da Internacional: que só essa seja também a nossa! »



A poesia de Antero de Quental apresenta três faces distintas:

A das experiências juvenis, em que coexistem diversas tendências;
A da poesia militante, empenhada em agir como “voz da revolução”;
E a da poesia de tom metafísico, voltada para a expressão da angustia de quem busca um sentido para a existência.

A oscilação entre uma poesia de combate, dedicada ao elogio da acção e da capacidade humana, e uma poesia intimista, direcionada para a análise de uma individualidade angustiada, parece ter sido constante na obra madura de Antero, abandonando a posição que costumava enxergar uma sequência cronológica de três fases.


Fontes: http://pt.wikipedia.org/wiki/Antero_de_Quental
Mais:
www.laicidade.org/documentacao/historia/historia-biografias-antero-quental/
www.artelivre.net/html/literatura/al_literatura_antero_de_quental.htm

Extraído daqui: http://pimentanegra.blogspot.com/2010/06/antero-de-quental-e-o-ideal-da.html

quinta-feira, 13 de maio de 2010

O QUE É A INTERNACIONAL ?


Antero de Quental


A Internacional!

Palavra terrível, dizem uns: palavra sublime, respondem outros.

Quem terá razão?

A Internacional é hoje o campeão do movimento socialista. Antes, pois, de explicarmos quais sejam as ideias e a organização desta famosa Associação, convém dizermos duas palavras sobre o Socialismo, cuja bandeira ela ergue com mão robusta no meio das nações.



O SOCIALISMO CONTEMPORÂNEO



O que é Socialismo?

Será um parto monstruoso, filho das paixões, da inveja, do espírito de anarquia? Será uma doutrina extravagante, sem raízes na natureza humana, sem precedentes na história dos povos?

Não! O socialismo, tão antigo como a injustiça e a opressão do pobre pelo rico, do desvalido pelo poderoso, não é mais do que o protesto dos que sofrem, contra a organização viciosa que os faz sofrer. E a reclamação da justiça e da igualdade nas relações dos homens; dos homens que a natureza criou livres e iguais, e de que a organização social fez como que duas raças inimigas, uma que manda, goza e oprime, outra que obedece, trabalha e sofre: dum lado, senhores, aristocratas, capitalistas: do outro, escravos, servos, proletários!

No dia em que esta desigualdade monstruosa e ímpia apareceu no mundo, apareceu também logo a protestar contra ela, o Socialismo.

O Socialismo não é de hoje nem de ontem. Todos os grandes pensadores, desde Pitágoras, e Platão, e Cristo, e os Gracos, e os santos da primitiva igreja, e os fundadores das ordens monásticas, todos reclamaram contra a miséria e a desigualdade, em nome do direito natural e inalienável que todo o homem tem à vida, ao bem-estar, aos meios de desenvolver a sua actividade, trabalhando, à família e à instrução. A todos eles fez o espectáculo da injustiça social soltar palavras de amargura e indignação.

Este movimento socialista renasce com mais força do que nunca no século XIX. Porquê?

Porque o século XIX é o século das grandes reivindicações. Porque neste século científico e positivo o povo proletário, depois de iludido durante centenas de anos por falsas promessas de melhoramento, que nunca se realizavam, da parte dos reis, dos sacerdotes e dos poderosos, convenceu-se finalmente que não era dessas classes interessadas na sua miséria que devia esperar o livramento, mas só de si, do seu esforço, da sua virtude e da sua união! O povo teve consciência do seu direito ultrajado, do seu trabalho menosprezado, sentiu uma voz íntima dizer-lhe que também os filhos do povo eram homens, e como tais deviam levantar as cabeças, e conquistar para si na sociedade o lugar que compete a homens livres e dignos!

Meditou então, e perguntou: por que sofre o povo? porque é que aqueles de cujas mãos sai todo o trabalho, toda a produção, toda a riqueza, todas as condições primárias do progresso e da ilustração, vivem na miséria, na ignorância, na abjecção? Porque é que a ociosidade que nada produz, tem a melhor parte do sol e da luz das sociedades, enquanto que a actividade, que tudo fecunda, vegeta numa obscuridade húmida e doentia? Qual é a causa desta ímpia desigualdade?

E a voz da Justiça, de acordo com a voz da Ciência, respondeu: porque a sociedade está constituída sobre uma base injusta, que em vez de servir para o melhoramento das condições de todos, serve só para o engrandecimento de alguns poucos, à custa do maior número. O princípio falso do egoísmo preside por toda a parte às relações sociais dos homens, em vez do santo princípio da fraternidade; e o mundo, em vez de nos apresentar o espectáculo consolador duma só família humana, uma família de irmãos, apresenta-nos o quadro cruel dum vasto e confuso campo de batalha, onde cada homem é um combatente que só procura engrandecer-se com os despojos daqueles que devia considerar como seus irmãos!

Há, efectivamente, um grande combate travado; há dois exércitos e duas bandeiras inimigas: dum lado o Trabalho, do outro o Capital: dum lado aqueles que, trabalhando, produzem: do outro lado aqueles que, sem esforço, e só porque monopolisaram os instrumentos do trabalho, terras, fábricas, dinheiro, vivem da pesada contribuição que impõem a quem, para produzir e viver, precisa daqueles instrumentos, daquele capital.

O Capitalista diz ao Trabalhador: se queres produzir, se queres viver, se queres existir, aceita submisso as minhas condições, recebe a minha lei, sê o meu criado e o meu servo: eu apreciarei o teu trabalho, darei por ele o que entender e quiser, serei o teu director, o teu amo, o teu tirano, e só assim terás tu direito a existir! Se essas condições te parecerem duras, cruéis, inadmissíveis, deixo-te nesse caso a liberdade de morrer de fome, a liberdade da inanição!

É isto justo? É isto humano? Não, mil vezes não: e todavia é esta a cruel realidade! A concorrência e o salário põem o trabalho à mercê do capital: e este, sentindo-se forte, extrai do trabalhador tudo quanto ele produz, deixando-lhe apenas o suficiente para não morrer, isto é, para poder continuar a trabalhar!

Leia o texto completo aqui

sábado, 24 de abril de 2010

O 25 de Abril e a luta contra guerra




A luta dos trabalhadores e dos militares portugueses, assim como dos povos colonizados, conduziu ao derrube do regime fascista em Portugal, no 25 de Abril de 1974. Foram então conquistadas importantes liberdades democráticas e criadas condições para o fim da guerra colonial, que a ditadura levava a cabo em África.
Passados 36 anos sobre essa data, Portugal está hoje novamente envolvido em mais uma odiosa guerra colonial, desta vez no Afeganistão, ao serviço da NATO e dos EUA.
A PAGAN (Plataforma anti - Guerra anti – NATO) considera que a próxima cimeira da NATO, que se vai realizar em Portugal, em Novembro, deverá representar um momento alto do nosso protesto contra o agressivo bloco militar imperialista e a criminosa guerra do Afeganistão.



PLATAFORMA ANTI-GUERRA, ANTI-NATO
http://antinatoportugal.wordpress.com/
http://pagan.pegada.net/drupal/
antinatoportugal@gmail.com
paganorte@gmail.com

terça-feira, 13 de abril de 2010

PORTO DE PONTA DELGADA (AÇORES): COMO SE ALCANÇA A PAZ SOCIAL?




Não vamos escrever aqui sobre o sindicalismo colaboracionista com os patrões e os governos, nem nos sindicalistas correia de transmissão desta ou daquela corrente da esquerda que suporta o sistema capitalista. Também ficará para outra altura a denúncia dos sindicalistas que o são apenas para satisfazer a sua ânsia de poder, servindo-se dos trabalhadores como moeda de troca ou carne para canhão nos confrontos que são travados sobretudo fora dos períodos eleitorais já que nestes os sindicatos ficam às moscas pois os seus ocupantes andam a colar cartazes ou a agitar bandeiras com as suas cores partidárias.
Neste texto também não vamos gastar tinta com os gestores da OPERPDL- Sociedade de Operações Portuárias de Ponta Delgada, Lda. pois estes estão a cumprir o seu papel de servos do capital. Então, vamos ao que interessa!
Como foi noticiado pela comunicação social de São Miguel, o STPGO-Sindicato dos Trabalhadores Portuários do Grupo Oriental recebia (ainda recebe?) cinco mil euros mensais da empresa mencionada para evitar qualquer conflito laboral no Porto de Ponta Delgada. Mas a trafulhice não ficava por aí, de acordo com o jornal “Correio dos Açores”, de 24 de Março de 2010, a OPERPDL “colocou a trabalhar na empresa um genro e um filho do Presidente do Sindicato”.
Mas tão ou mais grave do que o atrás relatado é que nos Açores não se ouviu uma única voz a condenar o sindicalismo de resultados do STPGO.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Enfermeiros dos Açores em protesto

O descontentamento dos enfermeiros continuou a manifestar-se na madrugada, manhã e tarde de ontem com níveis de adesão à greve situados acima dos 90% , 87% e 88%, respectivamente, segundo revelou à rádio TSF/Açores fonte da delegação regional do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP). Francisco Branco, responsável do SEP nos Açores, indicou que a adesão à greve, no turno da noite, compreendido entre as 00h00 e as 08h00, superou os 90%. “No que diz respeito aos hospitais, continuamos com a média bastante alta, estando acima dos 90%. No caso do Hospital da Horta, a adesão foi mesmo de 100% durante a noite, e no Hospital do Divino Espírito Santo foi de 98%”. Segundo o dirigente sindical, o mesmo aconteceu com os centros de saúde da Graciosa, de Vila Franca do Campo, do Nordeste e da Povoação, “onde a adesão foi de 100%”. Já no que respeita ao turno da manhã de ontem, entre as 08h00 e as 16h00, a adesão à greve fixou-se muito acima dos 80%. “Nós acabámos por fechar o turno com 87% de adesão à greve nos Açores”, referiu Francisco Branco, acrescentando que “durante a manhã estavam previstos para trabalhar 614 enfermeiros e 536 aderiram à greve”. Já no Hospital da Horta a adesão foi de 91%, no Hospital de Angra do Heroísmo de 84% e no Hospital de Ponta Delgada de 83%. Aliás, de acordo com o sindicalista, o Centro de Saúde da Horta foi o expoente máximo, uma vez que os 21 enfermeiros previstos para trabalhar aderiram à greve. Mais uma vez, os números revelados pelo Governo Regional no que respeita à greve não coincidem com os do SEP. São disso exemplo, os números apresentados pelo Executivo, relativamente ao turno da manhã de ontem. Assim, segundo uma nota informativa, “nos hospitais aderiram 85% dos enfermeiros, enquanto nos centros de saúde a adesão foi de 69%”, sustenta o Executivo. No turno da tarde, das 16h00 às 00h00, o SEP volta a indicar uma forte adesão dos enfermeiros à greve. “No global dos Açores, a adesão ficou-se pelos 88% (...). Dos 134 enfermeiros escalados para trabalhar durante essa tarde, 118 fizeram greve”, revelou o sindicalista. Os blocos operatórios dos três hospitais da Região continuam a sofrer com esta paralisação, uma vez que viram-se impedidos de funcionar devido à falta de enfermeiros, tendo sido apenas assegurados os serviços de urgência. Na base desta greve estão os vencimentos de entrada na classe de enfermeiro.

Daniela braga correia
Fonte: Açoriano Oriental, 1 de Abril de 2010

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Proteste Contra as Marradas da Câmara de Angra do Heroísmo



Amigos dos animais,

Como é do conhecimento público, a Câmara Municipal de Angra do Heroísmo (ou a empresa Municiapal Culturangra) possui uma dívida que ascende a mais de 1,5 milhões de euros, a maior parte desta quantia destinada ao pagamento das touradas de praça que se têm realizado nos últimos anos aquando das Sanjoaninas.
Sendo do conhecimento público que as actividades tauromáquicas não geram receitas que as tornem autosufientes, a presidente da Cãmara de Angra, por intermédio de uma comissão organizadoras das festas vai investir 380 000 euros para a realização, em Junho, da próxima Feira Taurina.
Vimos solicitar a todos o envio de mails de protesto à Presidente da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo (protestos: angra@cm-ah.pt).

(exemplo de texto já enviado, podendo fazer as alterações que acharem por bem ou criar outros textos)

Exma Senhora,

Tomei conhecimento de que a Câmara Municipal de Angra do Heroísmo, uma vez mais, tenciona patrocinar com dinheiros públicos (380 000 euros) a indústria tauromáquica a pretexto da Feira Taurina integrada nas Sanjoaninas de 2010.

Para além das touradas de praça constituírem uma actividade que mancha as maiores festas profanas dos Açores, conisderamos uma afronta o dinheiro gasto com elas já que a ilha Terceira, tal como o resto do território nacional, está a atravessar uma crise económica e social que se traduz no número crescente de desempregados e na dificuldade por que passsam as pequenas e médias empresas.

Venho manifestar o meu desagrado pelo mau uso dado aos dinheiros públicos para a manutenção de uma indústria decadente que vive do sofrimento dos animais e sugerir o seu investimento na área da saúde, da educação, da indústria, do comércio e dos serviços.

Com os melhores cumprimentos,

J. Sousa