sexta-feira, 29 de maio de 2009

O Desenvolvimento Não Pode Ser Sustentável

[Defensor do decrescimento, Carlos Taibo, é professor de Ciências Sociais
e de Administração na Universidade Autônoma de Madri (UAM), na Espanha. É
autor de mais de uma dezena de livros, o mais novo se chama "En defensa
del decrecimiento. Sobre capitalismo, crisis y barbarie" (Em defesa do
decrescimento. Sobre capitalismo, crise e barbárie), que lança luz sobre o
decrescimento, um novo movimento nascido na França, em 2003, e que já
conta com adeptos em diversas partes do mundo. Entre outras coisas, eles
lutam contra o totalitarismo economicista, desenvolvimentista e
progressista, a sociedade de consumo, do automóvel, da publicidade, do individualismo, da industrialização mundial, a medicação da vida, dos
deslocamentos de pessoas e mercadorias... Buscam a valorização do tempo,
da regionalização das atividades, de uma alimentação natural...
Autogestão.. São defensores da ecologia, dos recursos naturais. O
professor concedeu a seguinte entrevista à ANA.]

Agência de Notícias Anarquistas > O tema do decrescimento é novo no meio
ecológico e libertário espanhol?


Carlos < É relativamente novo: a palavra “decrescimento” tem sido
introduzida nos últimos tempos no debate dos movimentos ecologistas e
libertários. Mesmo assim, o conceito correspondente tem uma tradição
sólida e visível presença há muito tempo. Na realidade, a proposta é uma
conseqüência inevitável de desenvolvimentos teóricos anteriores.

ANA > É urgente pensar numa sociedade de decrescimento, livre da ditadura
econômica, do consumo, do sistema capitalista?


Carlos < É o único horizonte defendível no que diz respeito aos países do
Norte desenvolvido. Hoje já sabemos que o crescimento econômico não
provoca uma maior harmonia social, produz agressões ambientais, em muitos
casos, irreversíveis, esgota recursos naturais que não vão estar à
disposição das gerações futuras, e facilita o assentamento de um modo de
vida escravo que seduz a concluir que a nossa felicidade será maior quanto
mais consumamos.

ANA > Mas em países do Sul, como o Brasil, em pleno desenvolvimento,
crescimento econômico, uma sociedade de mercado em expansão, estas idéias
não têm sentido, não são defendíveis?


Carlos < Tem, evidentemente, um sentido diferente. Mas com certeza há
regiões inteiras do Brasil com grandes pegadas ecológicas nas quais é
preciso decrescer. Os países do Sul não podem reproduzir mais o modelo
agressivo e depredador que os países do Norte estão impondo em todo o
Planeta.

ANA > E quais seriam os primeiros passos para uma sociedade de decrescimento?

Carlos < Fechar muitos complexos econômicos -na indústria do automóvel e
na da aviação, na construção, nos complexos militares, na publicidade-,
recolocar os trabalhadores desempregados nos setores vinculados com a
economia social e ambiental, facilitar a repartição do trabalho e, enfim,
trabalhar menos e consumir menos. Todo o anterior deve vir acompanhado de
um processo geral de redistribuição da riqueza.

ANA > E uma “economia” cada vez mais regional, local, não?

Carlos < Sim. Temos que recuperar o mundo do local frente às supostas
vantagens do global. Isso permitiria restaurar boa parte das produções
locais. E, além disso, facilitaria a recuperação de formas de democracia
direta e autogestão. Quanto menos poder deleguemos, em todos os terrenos,
melhor para todos.

ANA > Dentro da política de decrescimento está também uma alimentação
natural, vegetariana, em oposição à alimentação industrializada, moderna,
causadora de inúmeras doenças e destruição da natureza?


Carlos < Está, naturalmente. O regresso ao local deve permitir a
reconstrução de muitos dos elementos da agricultura tradicional e deve
fechar o horizonte a muitas das grosserias políticas de intervenção
desenvolvidas pelas grandes empresas transnacionais.

ANA > E que setores são esses da economia social e ambiental que você fala?

Carlos < Falo, em geral, de setores não guiados pela lógica do benefício,
senão pelo objetivo de satisfazer necessidades e manter o equilíbrio com o
meio natural.

ANA > O deslocamento das pessoas também é uma preocupação dos
decrescentistas. Você concorda com a tese de que o turismo está afetando o
meio ambiente?


Carlos < Concordo, sim. Não podemos permitir-nos manter os níveis atuais
de deslocamentos, decisivos em matéria de esgotamento de recursos
naturais. Mas o problema não é só o turismo: alcança aos deslocamentos
irracionais que se verificam no meio urbano, em todos os lugares.

ANA > E sobre a “aceleração do tempo”, o que você poderia falar?

Carlos < A defesa da vida social acarreta, por lógica, uma defesa paralela
de sociedades onde o tempo não está regulamentado como nas nossas
sociedades de hoje. A regulamentação do tempo, e aceleração irracional de
todas as práticas, é um elemento essencial da lógica do capitalismo.

ANA > Há alguma diferença entre as idéias de decrescimento e as idéias de
Liev Tolstói de “simplicidade voluntária”?


Carlos < Há, sim. Ainda que creia que a maioria dos defensores do
decrescimento não está a pensar em sociedades marcadas por um código
religioso que convoque a reduzir hierarquicamente a manifestação das
emoções e das sensualidades. O que temos que defender é, sem mais, a
radical virtude da vida social frente às lógicas da produção, do consumo e
da competitividade.

ANA > Todos, ou a maioria dos problemas ambientais estão atrelados ao
consumo?


Carlos < Estão vinculados com uma explosão irracional das necessidades e,
naturalmente, com um aumento importantíssimo da população do Planeta.

ANA > E como mudar o imaginário de felicidade das pessoas quando elas
consomem alguma coisa?


Carlos < Sublinhando que, deixados atrás os níveis inferiores de
desenvolvimento, o hiperconsumo é bem mais uma manifestação de
infelicidade que o procedimento que permite acrescentar esta última.
Lembro mais uma vez que, a pesar de a renda per capita ter crescido três
vezes desde 1945 nos EUA, a porcentagem de norte-americanos que se
declaram cada vez menos felizes têm crescido espetacularmente.

ANA > Qual a importância da criatividade numa sociedade de decrescimento?

Carlos < O ócio criativo, assentado no trabalho coletivo e na investigação
consciente, é um elemento central de qualquer projeto de decrescimento. É
a antítese de um mundo, o nosso, de hoje, no que a criatividade ficou
morta em proveito, sem mais, da produtividade mais mecânica.

ANA > Hoje o conceito de “desenvolvimento sustentável” foi praticamente
recuperado pelos capitalistas, corporações, multinacionais... que
acreditam que é possível aliar a preservação do meio ambiente ao
desenvolvimento econômico. As idéias de decrescimento também não correm
esse risco?


Carlos < O risco existe sempre, sim. Mas parto da certeza de que o
capitalismo não pode subsistir num cenário de decrescimento. Outra coisa é
que consiga aproveitar determinadas ideais vinculadas com o decrescimento
para de esta maneira anular o sentido de fundo do projeto que este
reivindica. Em qualquer caso, hoje sabemos que o desenvolvimento não pode
ser sustentável.


ANA > Dias atrás o presidente dos EUA, Barack Obama, anunciou um plano
para tornar os carros e caminhões mais eficientes, que poluam menos e para
reduzir o uso de combustíveis. Outros países vão no mesmo caminho. E há
também outros exemplos de empreendimentos e iniciativas “verdes”. Há aí
algum aspecto de decrescimento? Ou tudo está dentro da lógica de
crescimento, do eco-capitalismo?


Carlos < Essas propostas têm pouco ou nada a ver com o decrescimento. Ao
cabo o que propõem é desenvolver tecnologias que devem permitir manter os
nossos níveis atuais de atividade econômica e, com eles, os nossos níveis
de agressão contra a natureza. Além disso, estão claramente desenhadas com
o objetivo de manter os benefícios das grandes empresas.


ANA > Qual o principal problema ambiental na Espanha nos dias atuais?


Carlos < As políticas que o Governo espanhol desenvolve em relação com a
mudança climática são particularmente pouco eficientes. Do mesmo modo, a
costa foi castigada pela construção de milhões de prédios que destruíram
lugares de claro interesse ecológico.

ANA > E o que devemos fazer “aqui e agora” como práticas decrescentistas?

Carlos < Temos que nos organizar, naturalmente, e temos que introduzir na
nossa vida cotidiana práticas diferentes. Mas isso não é um fenômeno
singular do projeto de decrescimento: antes deste estávamos na obrigação
de fazer o mesmo.

ANA > Para terminar. Ainda há tempo para salvar o Planeta, parar o
desenvolvimento?


Carlos < Para ser sincero, devo confessar que temos pouco tempo. Quanto
mais adiemos a nossa resposta, mais difícil será resolver os problemas.

domingo, 24 de maio de 2009



O porquê da Revista

Estamos convictos de que o anarco-sindicalismo é, por um lado, a resposta adequada, por parte dos trabalhadores, à exploração e opressão a que o capitalismo e o Estado sujeitam o conjunto da sociedade, e de que é, por outro lado,simultaneamente um meio de luta e uma forma de organização que, prefigurando já no presente a sociedade futura a que aspiramos, abre o caminho à construção de um meio social no qual os indivíduos e as suas associações possam livremente cooperar, na base do apoio mútuo e da solidariedade, no sentido, não só da satisfação das suas necessidades físicas,
psíquicas e intelectuais quotidianas, mas também do pleno desenvolvimento de todas as suas capacidades e aptidões.

Dito isto, sabemos bem que há diferentes correntes libertárias de opinião, divergentes quanto à forma e aos meios a utilizar no combate que todos travamos para conseguir atingir o objectivo que todos pretendemos alcançar. Há as correntes que
consideram o sindicalismo, sob qualquer forma que seja, como inadequado a uma luta anti-capitalista consequente; há a corrente individualista que não aceita o comunismo libertário como forma de organização social futura; há a anarco-feminista que defende a existência de organizações especificamente femininas; e outras ainda.

Pensamos que é sempre extremamente útil aprofundar, por todas as formas ao nosso alcance, o debate de ideias em torno destas, e doutras, correntes de opinião.
A par deste debate de ideias, também achamos importante a análise de outras questões que possam, directa ou indirectamente, interessar à luta dos oprimidos e deserdados pela sua libertação de toda a espécie de tiranias, tais como: capitalismo e globalização; guerras, fome e miséria; partidos, sindicatos burocrático-reformistas e mass media; concertação social; guerra social; greve geral activa e autogestão; e tantas outras.

Por isso, decidimos iniciar a publicação desta revista com o objectivo de contribuir para um maior esclarecimento das ideias de todos, e de cada um, de nós.


http://www.freewebs.com/aitbas/ApoioMutuo/ApoioMutuo_1.pdf

sábado, 16 de maio de 2009

Faleceu Edgar Rodrigues


Nota de Falecimento

Informamos com profunda tristeza o falecimento do escritor anarquista, militante e associado do Centro de Cultura Social, Edgar Rodrigues.

Sua morte se deu por volta das 20h de ontem, 14/05, devido a uma parada cárdio-respiratória. O corpo será cremado entre sábado e domingo sem cerimônia, como era a vontade de Edgar.

Autor de dezenas de obras e centenas de artigos sobre a história e as idéias anarquistas no Brasil e em Portugal, Edgar foi o maior e o mais importante difusor da cultura libertária desde o final dos anos 1960 quando publicou, sob a ditadura militar, a trilogia tornada clássica e indispensável em nossos dias: “Socialismo e Sindicalismo no Brasil, 1675/1913”, “Nacionalismo e Cultura Social, 1913-1922” e “Novos Rumos, 1922-1945”.

Edgar foi também fundador e um dos principais fomentadores do arquivo atualmente em posse do Círculo Alfa de Estudos Históricos (Grupo Projeção), para o qual, não obstante sua obscura expulsão, destinou partes substanciais de seu precioso acervo pessoal reunido ao longo de uma vida e com duros esforços.

A jovem geração anarquista que surge em meados dos anos 1980 juntamente com a reabertura do Centro de Cultura Social de São Paulo, certamente não saberia passar sem Edgar Rodrigues. Esta geração lhe é grata pela generosidade com a qual ele sempre soube lidar com o patrimônio cultural do anarquismo e por seu trabalho incansável de resgate da história e da memória anarquista.

Edgar que se foi aos 88 anos estará sempre presente para nós por meio de suas obras, por sua tenra lembrança e por uma vida dedicada ao anarquismo.

Saúde e Anarquia!

Centro de Cultura Social
www.ccssp.org

terça-feira, 12 de maio de 2009

Não às Corridas Picadas e aos Touros de Morte