quarta-feira, 19 de setembro de 2007

AQUILINO RIBEIRO, COM OU SEM PANTEÃO, O SEU NOME É SINÓNIMO DE GRANDE LITERATURA E DE VERTICALIDADE

A homenagem realizada pelos altos dignatários deste país ao grande romancista e resistente anti-fascista Aquilino Ribeiro, está sendo manchada por uma propaganda reles, suja e cobarde, de quem quer mostrar-se <>. Neste caso, querendo fazer com que se repudie o homem e o escritor, indissociáveis, ainda mais neste grande vulto da literatura portuguesa do século XX, pelo facto de ter pertencido na sua juventude ao ramo anarquista da carbonária, ao qual se atribui a autoria do regicídio que matou o rei D. Carlos I e seu filho, herdeiro do trono.Porém, a estupidez dessas aves de mau agoiro é dupla: ele - Aquilino - pode ter ou não pactuado /concordado com o regicídio. Porém, quer isso seja verdade ou não, não fará sentido a conotação de <> que lhe querem atribuir. Mas fazem-no, pois através dele, pretendem atingir um sector da sociedade dessa época - e por tabela - os seus herdeiros espirituais, o republicanismo radical e o anarquismo.Que foi um crime, sem dúvida o foi, mas que se deve compreender no contexto de uma situação bem particular. Quem não estudou de perto a história conturbada dessa época, não pode compreender e portanto valorar o que esteve na origem do regicídio.É que a maior parte das pessoas que clamam contra Aquilino, passam sob silêncio que o rei, pouco antes de ser assassinado, decretou e permitiu que o seu primeiro ministro, João Franco, instaurasse um regime de arbítrio, de ditadura, com nenhuma hipótese de evolução para uma transição pacífica para a república. Nessa época, uma vasta maioria da opinião pública repudiava o regime caduco da monarquia bragantina, os republicanos eram maioritários no pais, mas impedidos de aceder ao poder. Alguns anarquistas, ingenuamente, acreditavam que a república seria uma etapa indispensável para atingir mais tarde a anarquia,o socialismo libertário. Entre estes, estava o jovem Aquilino. Por isso, essa corrente anarquista (apenas um sector que tinha muitas e diverdsas correntes, na época, não a totalidade) aliou-se aos republicanos em várias ocasiões, tendo participado numa organização secreta chamada Carbonária, a qual preparava o derrube da monarquia por meios armados. Não se deve esquecer que era uma monarquia corrupta, decadente e, nos últimos tempos, governando pelos métodos autoritários que vieram ensombrar a história de Portugal no século XX.Quanto a ele ser anarquista, na 1ª metade do século XX, um conjunto impressionante de vultos da cultura portuguesa o foram, alguns tendo permanecido fiéis à ideia acrata até à morte, outros sendo atraídos para outras ideologias ou teorias políticas... basta citar alguns, sem pretenção de fazer inventário: - Na literatura: Ferreira de Castro, Vitorino Nemésio e Miguel Torga.- Na poesia: José Gomes Ferreira- No desenho: Stuart Carvalhais- Na ciência: Aurélio Quintanilha Estes e muitos mais colaboraram no jornal quotidiano <>, o segundo maior em tiragem ao nível nacional, órgão da CGT, central sindical inspirada no sindicalismo revolucionário, onde coexistiam anarquistas, comunistas, socialistas e muitos operários que se definiam apenas como sindicalistas.É neste contexto, nesta atmosfera intelectual, não apenas receptiva, mas participante de uma ou outra expressão revolucionária, anti-capitalista e anti-estatal, que se desenvolveu o pensamento e se firmaram os dotes de escrita desta figura maior da nossa literatura que foi Aquilino.Omitir isso, tal como o fez o presidente da república, torna a homenagem envergonhada, mostra que os actuais dirigentes políticos, nem sequer têm a visão ampla dos homens da república de 1910, pois "esquivam" nos seus discursos as importantíssimas facetas de Aquilino Ribeiro, nomeadamente as de militante libertário e anti-fascista.
Manuel Baptista