quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Extinção da Associação de Classe Interprofissional
O projecto da Associação de Classe Interprofissional surgiu da óbvia necessidade, no panorama sindical português, de um sindicato de cariz anti-autoritário e anti-capitalista, que possa renovar o sindicalismo e apresentar-se como alternativa ao sindicalismo burocrático reformista. A ACInterpro surgiu da vontade de vários militantes, cujo núcleo duro tinha já participado na criação da secção portuguesa da FESAL-E , a federação europeia de sindicalismo alternativo, ramo educação. Pensou-se nessa altura que estavam reunidas as condições para a criação de um sindicato de ofícios vários de cariz anti-autoritário. Após a realização da Assembleia fundacional em Julho de 2006 rapidamente se levou a cabo a legalização do sindicato, havendo uma mudança dos estatutos para ficarem conforme a lei, sua aprovação em Novembro de 2006 e sua publicação no boletim do Ministério do Trabalho em Dezembro. Paralelamente, fomos iniciando a nossa actividade com tomadas de posição face às questões que afectam os trabalhadores portugueses, com divulgação de informação sobre as lutas sociais em Portugal e no mundo inteiro, assim como reuniões com os vários militantes para definir a nossa estratégia. Em Outubro, realizamos as Jornadas Interprofissionais, com debates sobre a precariedade laboral, a privatização da educação e globalização da luta de classes. Em Março realizou-se um seminário, em Lisboa, sobre «violência na escola, violência na sociedade» por iniciativa do recém-criado Núcleo de base do Sector Educação. Em Abril de 2007 a AC-Interpro participou na conferência sindical internacional I07, uma conferência que contou com a participação de sindicatos revolucionários e autónomos dos 5 continentes. Desde cedo se compreendeu que a participação não estava a ser tão ampla como se previa, as reuniões eram pouco participadas e que as decisões eram sempre tomadas por um número reduzido de pessoas. Evidentemente, iniciar um sindicato do zero não é tarefa simples, é necessário organização e um grupo de trabalho coeso e consciente dos objectivos e do modo de funcionamento de um sindicato libertário. Ao contrário de outras tradições políticas e sindicais, para nós os fins não justificam os meios, pelo contrário os meios são os fins. A sociedade que queremos construir, livre e auto-organizada tem que estar igualmente presente nas organizações que têm por objectivo fazê-la nascer. Ora, a organização horizontal necessita da participação activa de todos os interessados, a ausência de hierarquias implica o assumir das responsabilidades de decidir e participar por parte de todos os que fazem parte do sindicato. Neste ponto, o nosso sindicato falhou, talvez por muitas pessoas não terem ainda experiência de trabalhar desta forma, talvez por não estarem suficientemente motivadas. O trabalho revolucionário necessita de uma visão clara de onde queremos chegar, e duma análise profunda e informada sobre a sociedade capitalista e sobre o Estado. Será a consciência daquilo que há a ganhar com uma nova sociedade onde não haja classes nem hierarquias que motiva um militante a trabalhar, que o levará a esforçar-se, a fazer sacrifícios e por vezes correr perigos. Talvez esta visão não estivesse suficientemente presente em cada membro do sindicato e daí não tenha havido o entusiasmo que lhe corresponderia. Finalmente foi interposta pelo ministério público uma acção contra a nossa organização, com o intuito de a extinguir, alegando que os nossos estatutos não estavam conformes com a lei. Os argumentos dados eram de duvidosa pertinência e não seria de espantar que, se tivéssemos combatido a acção legalmente, a tivéssemos ganho. No entanto, no momento em que a acção nos chegou, não tínhamos capacidade financeira poder contratar um advogado, de modo que não tivemos outra escolha senão deixar o processo correr sem a contestarmos. Neste momento, desconhecemos qual virá a ser a sentença, mas tudo indica que não nos será favorável. Infelizmente esta acção surgiu num momento em que não tínhamos ainda força suficiente para a combater, não temos dúvidas que se o nosso sindicato estivesse coeso e com muitos militantes combativos poderíamos ter agido de outro modo. A razão da criação da AC-Interpro continua tão actual hoje como há um ano, os sindicatos burocráticos já não realizam qualquer luta de classes, são necessários sindicatos horizontais que possam realizar uma luta real e coordenada pelos próprios trabalhadores e que possam ser o germe de uma nova sociedade. A situação histórica que vivemos talvez não nos tenha sido favorável, mas os nossos ideais continuam válidos e continuaremos a lutar por eles da forma que se apresentar mais adequada em cada momento. Viva o sindicalismo revolucionário! Viva a revolução libertária!
(extracto de um comunicado da Associação de Classe Interprofissional, de Junho de 2007)