domingo, 11 de setembro de 2011

O GRANDE COMBATE


Foto tirada a partir de um postal editado pela Escola Secundária Antero Quental (pintura de Domingos Rebelo)

"Há, efectivamente, um grande combate travado; há dois exércitos e duas bandeiras inimigas: dum lado o Trabalho, do outro o Capital: dum lado aqueles que, trabalhando, produzem: do outro lado aqueles que, sem esforço, e só porque monopolisaram os instrumentos do trabalho, terras, fábricas, dinheiro, vivem da pesada contribuição que impõem a quem, para produzir e viver, precisa daqueles instrumentos, daquele capital.

O Capitalista diz ao Trabalhador: se queres produzir, se queres viver, se queres existir, aceita submisso as minhas condições, recebe a minha lei, sê o meu criado e o meu servo: eu apreciarei o teu trabalho, darei por ele o que entender e quiser, serei o teu director, o teu amo, o teu tirano, e só assim terás tu direito a existir! Se essas condições te parecerem duras, cruéis, inadmissíveis, deixo-te nesse caso a liberdade de morrer de fome, a liberdade da inanição!

É isto justo? É isto humano? Não, mil vezes não: e todavia é esta a cruel realidade! A concorrência e o salário põem o trabalho à mercê do capital: e este, sentindo-se forte, extrai do trabalhador tudo quanto ele produz, deixando-lhe apenas o suficiente para não morrer, isto é, para poder continuar a trabalhar!"

Fonte:http://www.ocomuneiro.com/paginas_01_antero_o_que_e_a_internacional_1871.htm

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

O Jovem Libertário João Anglin



O gosto pela leitura, nomeadamente de quase tudo ao que aos Açores diz respeito, fez com que, há alguns anos, tenha chegado às minhas mãos uma separata da revista “Insvlana” dedicada ao jornal de inspiração anarquista “Vida Nova”, de Ponta Delgada, que terei lido e não dado muita importância.

Em 2010, no âmbito do meu envolvimento na defesa dos animais, ao pesquisar sobre Alice Moderno, precursora dos actuais movimentos de defesa do ambiente e amiga dos animais, deparei-me com um texto de João Anglin, no jornal “A Folha”, que primeiro havia sido publicado no “Vida Nova”.

A leitura, quase simultânea, da História dos Açores, do Dr. Carlos Melo Bento, onde o Dr. João Anglin era apresentado como “professor liceal de grande mérito pedagógico, legionário nacionalista e um dos importantes esteios do regime” e do livro “A oposição ao Salazarismo em São Miguel e em Outras Ilhas Açorianas (1950-1974) ” onde num texto da Doutora Sacuntala de Miranda a dado passo se fica a saber que o Liceu Antero de Quental, em pleno regime salazarista conservava sob a gestão do Dr. João Anglin “significativos traços democráticos” e que aquele “estava longe de ser uma figura autoritária e era coadjuvado, nas suas funções, por professores de tradições democráticas, como o meu pai e o Dr. João Bernardo Rodrigues”, despertou-me a curiosidade em conhecer melhor a personalidade do Dr. João Anglin que foi durante muitos anos reitor do Liceu Antero de Quental, escola onde frequentei os antigos 6º e 7º anos do Ensino Liceal.

Através da investigação que fiz cheguei à conclusão que, na sua adolescência, ele foi um militante libertário, já que, como escreve João Freire, não se limitou a “uma adesão intelectual à doutrina”, mas teve uma actividade de relevo “no sentido de difundir e alargar o raio de influência social” do ideal anarquista como o demonstram os textos que publicou no “Vida Nova”.

A seguir, apresento um pouco do pensamento de João Anglin durante o período que vai de 8 de Junho de 1908 a 22 de Abril de 1911.

O 1º de Maio, data comemorada em Portugal desde 1890, foi tema usado por João Anglin em dois textos. Para além da denúncia da situação degradante em que viviam (e vivem) os mais explorados, nomeadamente os operários, há nos textos uma mensagem de denúncia do capitalismo e da transformação da data, por alguns, em dia de “festas e patuscadas” e uma palavra de esperança numa revolução que “se não fará esperar muito”. Só quando tal acontecer, escrevia João Anglin, aquele dia deixará “de ser um dia de protesto e de luta para ser um dia de festa e regozijo universais”.

O anti-militarismo foi, também, um assunto que não esteve ausente das preocupações e textos de João Anglin e do “Vida Nova” à semelhança do que acontecia noutros jornais nacionais que publicavam cartas/apelos aos soldados ou cartas destes a descrever a vida nos quartéis. João Anglin, para além considerar os quartéis como “focos de imoralidade e ociosidade” escrevia que com a incorporação no exército perdiam-se braços produtores (na agricultura) e quem beneficiava era “o Estado e toda essa corte de satélites que em torno dele adejam, porque assim é mais um autómato a servi-los, mais uma lança a defendê-los”.

A influência da Igreja Católica na sociedade micaelense foi um dos alvos da luta de João Anglin como se pode confirmar através da leitura de vários textos onde, mais do que combater os fundamentos da religião, aponta as suas baterias para os “ministros” que corrompem “as sublimes doutrinas do fundador do Cristianismo”.

Na maioria dos textos de João Anglin, a educação e a instrução são os temas principais. Segundo ele, a sociedade retrógrada em que vivia só poderia ser destruída por meio da instrução que segundo ele é:

“O único guia seguro que dirige os povos pela estrada que conduz à civilização; ela é também o meio eficaz para as massas proletárias se libertarem do jugo que lhes impõe a burguesia.
Só por meio de uma instrução baseada nos princípios da justiça e do amor, é que o povo compreenderá os seus direitos e gritará bem alto: Queremos liberdade.”

T. Braga

Fonte: http://www.correiodosacores.net/index.php?mode=noticia&id=34791


Fonte: http://obode.blogspot.com/search/label/libert%C3%A1rios